USP: Fotorreator usa luz solar para tratar efluentes industriais

Aparelho realiza reações químicas acionadas pela luz solar para tratar efluentes com compostos orgânicos não removidos pelas técnicas convencionais

qua, 03/08/2005 - 20h53 | Do Portal do Governo

Um sistema desenvolvido na Escola Politécnica (Poli) da USP, pela engenheira Isabella Bellot de Souza Will, permite que indústrias de qualquer porte possam tratar inúmeros tipos de efluentes. O método, que trata compostos orgânicos utilizando fotorreatores e energia solar, pode ser implementado em pequenos espaços, com o uso de tanques, tubos de PVC e uma estrutura metálica. Os fotorreatores são equipamentos que realizam reações químicas acionados por um combustível, no caso a luz do sol.

O aparelho trata efluentes que contêm compostos orgânicos que não podem ser removidos por processos convencionais. Num tubo de vidro de 1,20 metros de comprimento e 1,2 centímetros de largura, passa o efluente a ser tratado. Abaixo existe um espelho parabólico (curvo) de alumínio, pois este formato direciona a luz solar para os reatores aumentando a absorção. Dentro dos tubos ocorrem reações químicas conhecidas como reações de oxidação.

Essas reações acontecem quando os produtos tóxicos encontrados na água reagem com radicais hidroxila (·OH) – os chamados radicais livres. Esses radicais, popularmente conhecidos por serem os causadores do envelhecimento precoce, nesse caso atuam de forma benéfica por terem a propriedade de oxidar substâncias não-biodegradáveis.

Eficiência
Ainda que dissolvidos em concentrações pequenas – da ordem de partes por milhão (ppm) – alguns desses produtos, como fenóis, polímeros, pesticidas e metais pesados, são tóxicos e, em muitos casos, cancerígenos. ‘Somente através de reações fotoquímicas é possível tratar esses compostos’, explica o orientador da pesquisa, professor Roberto Guardani, da Escola Politécnica (Poli) da USP.

É justamente essa característica de total eficiência na despoluição da água que explica a sua atratividade para o desenvolvimento de aplicações industriais. ‘O processo é caro, mas esse custo é compensado por duas outras vantagens: a possibilidade de eliminar inúmeros compostos tóxicos e a utilização de energia solar, uma vez que esse fator – energia – corresponde a 60% do custo do tratamento de efluentes industriais’, complementa ele.

Outro fator relevante é a possibilidade de utilização do método por pequenas indústrias. O equipamento não possui grandes dimensões e é implementado usando pequenos tanques, tubos de PVC, espelhos refletores e tubos de vidro. ‘Muitas indústrias de pequeno porte se ressentem da falta de um modo prático de tratar seus resíduos. A técnica usando foto-reatores preenche essa lacuna de modo bastante satisfatório’, finaliza o professor.

Histórico
O projeto é descrito na tese de doutorado de Isabela, intitulada Estudo da Utilização de Reatores Fotoquímicos Solares para a Degradação de Efluentes Industriais Contendo Compostos Orgânicos Tóxicos, defendida na Poli, e será premiado no Concurso Nacional de Pós-Graduação da Associação Brasileira de Engenharia Química (ABEQ), que será realizado neste mês de agosto em São Paulo.

O Centro de Engenharia de Sistemas Químicos – Laboratório de Simulação e Controle de Processos (CESQ-LSCP), da Escola Politécnica da USP – grupo de estudos ao qual Isabela está vinculada – completa 20 anos em 2006. Coordenado pelos professores da Poli, Cláudio Oller do Nascimento, Roberto Guardani e Antonio Carlos Teixeira, há seis anos o grupo trabalha no desenvolvimento de processos para tratamentos de efluentes.Com uma equipe de mais de 30 pessoas, o CESQ-LSCP desenvolve aplicações, reatores, e estuda processos químicos relacionados ao tratamento de efluentes industriais, além de controle, modelagem e simulação de processos químicos.

Charles Nisz – Agência USP