USP: FOB desenvolve nova técnica para tratar cistos ósseos simples

Pesquisadores utilizam controle clínico e radiográfico para tratar cistos ósseos simples

sex, 07/02/2003 - 20h41 | Do Portal do Governo

Um novo tratamento para cistos ósseos simples foi desenvolvido no Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. Nele, o paciente é submetido a um protocolo de controle clínico e radiográfico até que haja a cura da lesão, o que pode levar até sete anos. O trabalho é coordenado pelos professores José Humberto Damante e Osny Ferreira Júnior da FOB/USP e pela professora Eliete Neves da Silva Guerra, do Departamento de Patologia da Universidade de Brasília (UNB).

Os cistos ósseos simples são caracterizados pelo aparecimento de uma cavidade patológica assintomática no interior dos ossos. Na região da cabeça e pescoço, afetam principalmente a mandíbula, podendo ocorrer em ossos longos de outras partes do corpo. Antes, a única opção de tratamento existente era a cirúrgica. ‘Na verdade, o que fizemos foi comprovar por experiência prática e relatos da literatura que esse tipo de cisto é uma lesão auto-limitante cuja reparação pode ocorrer espontaneamente, pois não é encontrado em pessoas com mais de 30 anos’, explica o professor Damante.

Segundo ele, a principal vantagem do método é evitar a cirurgia desnecessária, um princípio básico em medicina. ‘Embora o protocolo imponha despesas com exames clínicos e radiográficos, elas serão sempre menores que um tratamento cirúrgico.’ Ferreira Junior conta que a única desvantagem é a necessidade de colaboração do paciente em retornar para os controles periódicos.

Controle clínico

A FOB aplica o protocolo de controle clínico e radiográfico desde 1994. A partir da descoberta casual de uma lesão com aspectos radiográficos compatíveis com cisto ósseo simples, o paciente é submetido a um exame clínico. É verificado se não existe expansão das corticais ósseas (camada externa de osso compacto) e se há integridade das mesmas, como é normal nessa afecção. A integridade dos dentes também deve ser confirmada. Novas radiografias são tomadas após 20, 60 e 180 dias, sempre precedidas pelo exame clínico que deve atestar a normalidade da região.

Havendo alteração do quadro, presença de dor, expansão óssea ou crescimento anormal da lesão radiograficamente o paciente é submetido a exploração cirúrgica, voltando ao protocolo clássico de tratamento.

Caso o quadro permaneça inalterado após 180 dias fica confirmado o diagnóstico clínico e radiográfico de cisto ósseo simples. Os controles passam a ser anuais até que a remodelação óssea aconteça. ‘Vale dizer, entretanto, que em certos casos excepcionais, quer seja pela proporção ou pela semelhança com outras doenças, não se aplica o protocolo proposto e sim se faz a cirurgia diretamente’, observa Ferreira Júnior.

O professor Damante afirma que o método assegura a possibilidade de uma intervenção cirúrgica exploratória para biópsia a qualquer tempo. ‘Na eventualidade rara de um tumor maligno o diagnóstico seria estabelecido no vigésimo dia, período médio de tempo normalmente aceito na clínica diária para se obter o diagnóstico final de uma doença’, conta.

Resultados

O Departamento de Estomatologia da FOB vem acompanhando há oito anos um grupo de 10 pacientes com diagnóstico de cisto ósseo simples de acordo com o protocolo proposto. ‘Aplicando recursos de radiografia digital às imagens radiográficas das lesões pudemos classificá-las e acompanhar sua evolução, estabilização ou regressão’, afirma o professor Ferreira Júnior.

Os resultados demonstram que seis casos estão regredindo, um desapareceu totalmente (cura completa), outro permanece inalterado e dois aumentaram. Ferreira Júnior conta que o aumento observado em dois casos é explicado pela fase em que a doença foi descoberta. ‘De acordo com experiências anteriores, quando a lesão é detectada numa fase inicial há, primeiramente, um aumento de tamanho, seguido por um período de estabilização e depois regressão.’

Mais informações: (14) 235-8254 ou e-mails osnyfjr@fob.usp.br

Valéria Dias – Agência USP