USP: Flotação é maneira econômica na separação dos plásticos PET e PVC para reciclagem

Brasil é o segundo país do mundo em reciclagem de plástico PET

qui, 07/08/2003 - 20h44 | Do Portal do Governo

A flotação é uma maneira eficiente e econômica de separar o plástico PET do plástico PVC. Após mais de dois anos de experimentos em laboratório, a engenheira Gisela Ablas Marques verificou a eficiência dessa técnica, utilizada desde o início do século em minérios.

O PET, usado em garrafas de refrigerantes, embalagens e tecidos, possui alto valor no mercado de recicláveis, perdendo apenas para o alumínio. A dificuldade em separá-lo do PVC – aplicado em encanamentos e embalagens – é um dos principais empecilhos à sua reciclagem.

Naturalmente hidrofóbicos (repelentes à água), os plásticos não afundam durante a flotação, mesmo alguns deles sendo mais densos que a água. A técnica consiste em modificar as propriedades de um dos tipos de plástico para que ele possa ser ‘molhado’ pela água e afundar. Assim, o PET e o PVC misturados, já picados e lavados, são colocados em solução aquosa com o surfactante (tipo de reagente), que faz com que um deles possa ser molhado pela água e deprimido enquanto o outro flutua com a fixação de bolhas em sua superfície. Até então, a separação entre os dois materiais era difícil porque suas densidades são muito próximas.

‘Por intermédio da ação do surfactante foi possível mudar a superfície do PET fazendo com que ele apresentasse maior afinidade pela água que o PVC. Desse modo, conseguimos flotar o PET e deprimir o PVC’, explica Gisela Marques. Ela variou o surfactante e o espumante (substância para ajudar a ‘prender’ o plástico flotado na superfície). Também trabalhou com diferentes níveis de acidez da solução e tamanhos dos flocos de plástico.

Assim, a engenheira chegou a uma fórmula ideal: a solução deve ser básica, de pH 12. O surfactante escolhido foi o Lignosulfonato de Cálcio (LCa) e o espumante foi o Metil Isobutil Carbinol (MIBC). Os materiais devem ser moídos em flocos de plástico de 4,7 a 3,3 milímetros. O tempo de permanência na solução deve ser de uma hora. ‘Se deixar durante apenas 10 minutos não dá tempo do surfactante agir sobre a superfície do PET e ambos os plásticos são flotados. Se deixados por duas horas, os dois materiais serão deprimidos e estarão no fundo do recipiente’, conta.

Obstáculos
Um dos maiores problemas entre PET e PVC é a ‘contaminação cruzada’. ‘O PVC contamina a reciclagem do PET e vice-versa’, afirma Gisela. Segundo ela, uma garrafa de PVC em meio a 20 mil garrafas de PET é o suficiente para inutilizar todo o lote. Além disso, o PVC, em alta temperatura, libera ácido clorídrico, o que corrói o maquinário e provoca defeitos no produto final.

A contaminação do PET também pode se dar por tampas, rótulos e adesivos. ‘Cada um deles é um tipo de plástico diferente, que não pode ser misturado ao PET.’ Atualmente, a separação é manual, feita em uma esteira rolante. ‘O problema é que PVC e PET são parecidos e podem ser confundidos’, relata a engenheira.

Segundo Gisela, apesar da contaminação prejudicar a reciclagem, o principal empecilho ao processo ainda é a coleta e a separação dos materiais. ‘A coleta seletiva de lixo custa cerca de oito vezes mais do que a coleta convencional. O investimento é alto e não existe um retorno a curto prazo, por isso a implementação é difícil’, lamenta.

Apesar dos problemas, o Brasil é o segundo país do mundo em reciclagem de plástico PET. ‘O processo de reciclagem utiliza apenas 10% da energia necessária para a produção do mesmo produto a partir da resina virgem’, lembra Gisela. Ela acredita que, com a flotação, que pode ser implementada em empresas de grande porte, o mercado de reciclagem de plásticos pode se ampliar ainda mais.

A dissertação de mestrado Separação de PVC e PET para reciclagem foi apresentado à Escola Politécnica (Poli) da USP, em abril desse ano, sob orientação do professor Jorge Alberto Soares Tenório. O estudo integra o Núcleo de Reciclagem de Resíduos, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli.

Beatriz Camargo – Agência USP