USP: Farmacêuticos desconhecem legislação sanitária e atribuições da profissão

Cultura de automedicação é apontada na pesquisa

qui, 30/09/2004 - 16h07 | Do Portal do Governo

Apenas 22% dos farmacêuticos de Ribeirão Preto – independentemente do sexo, faixa etária ou tempo de serviço – possuem conhecimento adequado da legislação sanitária e da regulamentação profissional. A constatação é um dos resultados da dissertação de mestrado de Luci Rodrigues da Silva, defendida no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

O trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil dos profissionais de farmácia e avaliar seus conhecimentos sobre as leis que regem a comercialização de medicamentos e as atribuições do farmacêutico.

Luci aplicou um questionário a 100 farmacêuticos regularmente inscritos no Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), escolhidos aleatoriamente entre os profissionais das 175 drogarias da cidade. ‘Observamos baixo conhecimento sobre pontos importantes da profissão’, revela Luci. Um deles foi referente à comercialização de antibióticos.

No Brasil, a venda de antibióticos somente é permitida mediante apresentação de receita médica. ‘No entanto, durante a entrevista, 47% dos farmacêuticos citaram pelo menos um antibiótico que consideram – erroneamente – como de livre comercialização’, diz a pesquisadora. ‘Um outro ainda se referiu a um antiinflamatório como exemplo de antibiótico que pode ser vendido livremente.’ Para Luci, o dado reflete a força que a cultura da automedicação possui entre a população, sendo incorporada até mesmo à rotina do farmacêutico.

A permanência de um farmacêutico responsável durante todo o funcionamento da farmácia ou drogaria, exigência estabelecida pela Lei Federal Nº 5.991/73, também é desconhecida da maioria dos profissionais. ‘A presença do farmacêutico no atendimento à população é imprescindível para que se possa fazer uma avaliação correta da receita médica e evitar a ocorrência de erros’, esclarece Luci. Cerca de 60% dos farmacêuticos desconheciam essa norma.

Erros genéricos

‘Observamos também que apenas 29% dos profissionais entrevistados definiram corretamente o que é um medicamento genérico. Além disso, 85% não sabiam que é permitida a aplicação de penicilina injetável nas drogarias’, completa Luci.

Segundo a pesquisadora, desconhecendo a legislação e suas atribuições profissionais, o farmacêutico dificilmente conseguirá lidar com as inúmeras situações que aparecem no dia-a-dia. ‘Tampouco poderá avaliar a prescrição médica e interferir corretamente no receituário dos pacientes’, diz. ‘Isso pode levar o profissional a cometer infrações sanitárias, éticas, civis e até mesmo penais.’

‘Os farmacêuticos são os que mais deveriam prezar pelo cumprimento da legislação, mas, infelizmente, pouco a conhecem.’ Para Luci, os resultados da pesquisa refletem uma formação deficiente nas faculdades de Farmácia. ‘Se precisamos de um profissional capaz de garantir a qualidade do medicamento que iremos consumir, devemos formá-los adequadamente’, finaliza.

Mais informações: (0XX16) 3977-9351 ou lrsilva@saude.pmrp.com.br

Da Agência USP de Notícias/Tadeu Breda