USP: Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia mapeia ação do protozoário Toxoplasma gondii

A iniciativa é uma parceria entre a FMVZ e o United States Department of Agriculture, dos EUA

qua, 18/06/2003 - 20h28 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP pretende traçar, até 2004, um panorama da toxoplasmose em diferentes espécies animais no Estado de São Paulo. A iniciativa, coordenada pela professora Solange Maria Gennari, é uma parceria entre a FMVZ e o United States Department of Agriculture, dos EUA.

Cerca de 70% da população adulta brasileira já teve toxoplasmose ou entrou em contato com seu agente. A doença é uma zoonose, ou seja, é transmitida entre animais e homens. Segundo Heitor Franco de Andrade Jr., professor do Instituto de Medicina Tropical da USP, a toxoplasmose congênita acontece em um a cada mil partos, transmitida da mãe para o feto. Nesse caso, provoca aborto ou lesões nervosas ou visuais no bebê.

‘Em 10% das doenças sintomáticas, o protozoário causa a toxoplasmose ocular, uma infecção com perda parcial ou completa da visão.’ O professor ressalta que a doença também atinge portadores do vírus da Aids, sendo responsável por 20% das mortes nessa população. ‘Apesar de ser discreta, a toxoplasmose é muito perigosa’, alerta.

Pesquisa inédita

Na primeira fase do estudo Caracterização biológica e genética de isolados de Toxoplasma gondii de gatos, ovinos, caprinos e capivaras, foram enviadas aos EUA amostras de galinhas criadas soltas e destinadas ao consumo. A pesquisa encontrou nesses animais o isolado tipo 1 do protozoário, que até então era encontrado apenas em humanos. ‘Isso causou grande espanto na comunidade científica, que resolveu rever seu conhecimento sobre a doença, uma vez que supunha-se que esse isolado não atingisse animais domésticos, principais fontes de infecção dos homens’, relata Solange.

O Toxoplasma gondii pode ser encontrado em três variações, chamados de isolados tipo 1, 2 e 3, cujas diferenças são notadas apenas na estrutura molecular. O tipo 1 é considerado o mais perigoso, responsável pelos casos clínicos em humanos.

Atualmente, a pesquisa está na fase de captação de animais. O objetivo é definir quais dos três tipos de isolados do protozoário são encontrados nas diversas espécies, nas regiões do Estado. Outra meta é descobrir qual espécie animal é a mais infectante. ‘Coletaremos animais soro positivos e vamos analisar o tipo de isolado envolvido’, diz a pesquisadora. ‘Depois dos resultados surpreendentes em galinhas, não sabemos o que vamos encontrar.’

Serão obtidos no mínimo 20 isolados do protozoário, o que significa mais de 20 amostras animais de cada uma das espécies. ‘Incluímos também capivaras porque elas têm servido, cada vez mais, ao consumo humano e provaram ser positivas ao protozoário, podendo estar envolvidas na epidemiologia da doença’. Todos esses estudos são inéditos. ‘Em alguns poucos ovinos já foi feito algo semelhante’, completa Solange.

O primeiro animal analisado será o gato, peça chave do ciclo do protozoário. Os resultados dessa etapa estão previstos para os próximos 12 meses.

Ciclo do protozoário

O Toxoplasma gondii tem como hospedeiro definitivo o gato ou outros felídeos, que são os únicos nos quais o ciclo se completa. O gato infectado elimina pelas fezes milhares de oocistos, forma do protozoário que pode viver por meses no ambiente.

Outros animais ou o homem ingerem esses oocistos e formam cistos do agente em seus tecidos (musculatura ou órgãos). O homem também pode adquirir a infecção por água ou vegetais frescos contaminados com estes oocistos.

‘Mamíferos e aves podem funcionar como hospedeiros intermediários, mas o que nos preocupa são aqueles que servem ao consumo humano’, salienta Solange. Assim, se a carne desses animais – ovelha, cabra, galinha, boi, capivara ou porco – for ingerida crua ou mal cozida, o ser humano pode se infectar.

Beatriz Camargo – Agência USP