USP: Estudo revela que o trote é uma prática de segregação

Segundo pesquisadores o trote cria divisões entre os alunos

qui, 10/02/2005 - 12h02 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por André Benevides

Enquanto muitas pessoas acreditam que, resguardados alguns limites, o trote universitário é uma atividade de integração e serve como um rito de passagem para os ingressantes ao ensino superior, os professores Antônio Ribeiro de Almeida Júnior e Oriowaldo Queda, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP têm uma visão completamente diferente.

Segundo eles, que desde a década de 90 pesquisam sobre o tema, o trote, além de não promover a integração, cria divisões entre os alunos e diminui a sensibilidade dos mesmos aos mais variados preconceitos.

‘O trote deveria desaparecer como ação e como palavra’, defende Queda, que há mais de dez anos promove atividades com o intuito de esclarecer os alunos e toda a comunidade universitária sobre o tema. Suas pesquisas o fizeram concluir que, neste tipo de recepção, não é possível separar a violência da brincadeira.

Durante cinco anos, seus alunos responderam a uma simples questão: citar três atividades trotistas que eram consideradas brincadeiras e três violentas. ‘O que é brincadeira para um é violência para outro’, completa Almeida.

A partir de 2002, os professores passaram a aplicar um questionário mais elaborado, na semana de recepção aos novos alunos e ao término do período de trotes, dois meses mais tarde. No total, são mais de 2.000 formulários respondidos e mais de 100 entrevistas realizadas.

As duas principais escalas estudadas foram acerca da aceitação do trote e da falta de sensibilidade em relação aos preconceitos, muito comuns nos apelidos recebidos pelos novos alunos e em outras atividades do trote.

Segundo eles, existe uma relação diretamente proporcional entre os dois dados: nos alunos em que a aceitação do trote é maior, a insensibilidade aos preconceitos também maior. Na comparação entre as duas medidas a conclusão é contundente: ‘Em dois meses, eles se tornam mais propensos a comportamentos preconceituosos do que eram quando de seu ingresso na universidade’.

Outro fator que colabora para a ocorrência dos trotes, segundo os pesquisadores, é a conivência das instituições. ‘Há um interesse em manter o trote, pois ele é uma forma de controle social, para implantar uma certa cultura. Acaba-se por impor algumas regras aos alunos, silenciando-os sobre as deficiências da universidade’, diz Almeida.

Além disso, eles apontam a completa impunidade dos trotistas e a ineficácia das iniciativas no sentido de coibir os trotes. ‘As campanhas contra o trote, por exemplo, acabam legitimando-o, ao abrir espaço para certas práticas consideradas como simples brincadeiras pelos trotistas’.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/
V.C.