USP: Estudo mostra que obesidade pós-parto pode ser evitada

Isto ocorre com maior duração da amamentação

seg, 25/08/2003 - 20h27 | Do Portal do Governo

Após o parto, uma das preocupações que a mulher costuma ter é a retomada de seu peso anterior a gestação. Mas isso nem sempre ocorre, seja por fatores genéticos, emocionais ou mesmo devido a uma alimentação inadequada. Em seu doutorado, fatores determinantes da retenção de peso pós-parto em um corte de mulheres com nove meses de seguimento, apresentado à Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o nutricionista Gilberto Kac defende a hipótese de que quanto maior a duração do período de amamentação, menor o risco de obesidade essa nova mãe terá.

Em seu trabalho, Kac concluiu que para cada quilo que a mãe ganha durante a gestação, 35% desse valor fica retido após nove meses do nascimento do bebê. ‘A natureza é sábia porque a gordura acumulada será depois utilizada na produção de leite. Assim, uma mãe que amamenta apenas um mês pode, após nove meses, ter três quilos a mais do que uma que amamentou seis meses’, enfatiza.

‘Apesar de tudo temos a cultura de valorizar o pré-natal, mas este acompanhamento acaba se finalizando após o nascimento do bebê. Meu trabalho vem justamente afirmar que a assistência da mãe pós-parto é tão importante quanto no período anterior’, afirma Kac, que também é professor do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao acompanhar durante 24 meses 479 mulheres usuárias de um Centro Municipal de Saúde da região central do Rio de Janeiro, Kac realizou uma avaliação periódica utilizando o seguinte critério: participariam do estudo mulheres entre 18 e 45 anos e com, no máximo, 30 dias pós-parto. O acompanhamento também foi marcado durante os períodos de vacinas, datas consideradas estratégicas por fazerem parte da rotina obrigatória de imunização do bebê.

A primeira entrevista foi realizadas 15 dias após o parto, a seguinte com dois meses – período em que a criança tem de tomar obrigatoriamente a vacina contra poliomelite -, a terceira após os primeiros seis meses do bebê – reforço da primeira dose contra poliomelite – e a última aos nove meses, quando a criança toma a vacina contra sarampo.

De acordo com Gilberto Kac, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda amamentação exclusiva até o sexto mês. O aleitamento pode continuar como um complemento da alimentação até os dois anos de idade. Isso acaba por reduzir as chances de mortalidade e também oferece proteção máxima contra doenças, principalmente diarréia e infecções respiratórias.

Aplicabilidade

Estudos como o do pesquisador carioca podem ser aplicados no sistema de saúde pública já que 60% a 70% das mulheres gestantes utilizam-se do Sistema Único de Saúde (SUS)

Uma média de 20% dessas mães acompanhadas pela pesquisa acabou por ter alto nível de retenção de peso, chegando até sete quilos e meio acima do inicial. Isso se deve ao fator idade, paridade (filhos anteriores) e ganho excessivo de peso durante a gestação. ‘Uma mãe com oito anos de estudo e outra semi-analfabeta tem uma relação diferente com sua alimentação e a da criança. A obesidade nesse caso poderia ser minimizada se a mãe tivesse amamentado por um tempo maior e também se ela obtivesse um maior grau de informações’, lembra.

Hoje, o Departamento de Nutrição Social e Aplicada do Instituto de Nutrição da UFRJ vem investindo em mais pesquisas neste segmento. Espera-se que até 2006 haja mais três doutorados e um mestrado, analisando a dinâmica do padrão de consumo na gravidez e no pós-parto, a auto-estima em mulheres após a gravidez e a amamentação como fator de proteção para o sobrepeso infantil.

Mais informações: (0xx21) 2562-6595, ou pelo e-mail gkac@gbl.com.br

Juliana Kiyomura Moreno