USP: Estudo identifica nova espécie de vírus em planta medicinal

Pesquisadores identificaram nova espécie de potyvirus em amostras de Pfáffia glomerata, planta mais conhecida como ginseng brasileiro

sex, 08/07/2005 - 20h11 | Do Portal do Governo

Uma nova espécie de potyvirus foi identificada na planta Pfaffia glomerata, popularmente conhecida como ginseng brasileiro. O potyvirus é uma família de vírus que ataca diversas culturas, como o feijão, soja, tomateiro, batata, maracujazeiro e mamoeiro, entre outras. Ensaios demonstraram que este vírus reduz significativamente o crescimento da planta e certamente causaria prejuízos em um plantio comercial.

Este novo potyvirus, denominado vírus do mosaico da Pfaffia (PfMV), foi identificado em um estudo de iniciação científica realizado no Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, orientado pelos professores Elliot W. Kitajima e Jorge Alberto Marques Rezende.

‘Mesmo tratando-se de um trabalho realizado na graduação, o estudo bem poderia ter sido apresentado como uma dissertação de mestrado’, garante o professor Kitajima. Segundo ele, a pesquisa da então aluna, Louise Danielle de Carvalho Mota, bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi concluída em 2003.

Danielle, que formou-se em Biologia pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), atuou cerca de dois anos como estagiária na área de genética molecular, no projeto genoma da xylella fastidiosa da Esalq. ‘Foi quando tive a oportunidade de estudar também virologia vegetal e realizar esta pesquisa’, conta. Atualmente, a bióloga trabalha como técnica de pesquisa no Laboratório de Expresão Gênica do Instituto Ludwig de pesquisa contra o câncer.

Trabalho conjunto

O trabalho inicial deste estudo, de acordo com o professor Kitajima, foi o de identificar possível virose em uma amostra de Pfaffia com sintomas de mosaico e redução de porte. A planta foi enviada em 2000 por um docente da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), do Rio de Janeiro, que fazia avaliações agronômicas da Pfaffia. ‘O primeiro passo foi estabelecer e proceder à purificação do vírus, que se multiplica dentro das células da planta’, conta Kitajima.

O vírus purificado foi inoculado em coelhos para produção de anti-soro, para imunodetecção do agente infeccioso nos trabalhos de diagnose. A seguir fez-se a extração do genoma viral (RNA) tendo sido seqüenciada uma parte (da capa protéica), e cuja análise demonstrou que se tratava de uma nova espécie de potyvirus. ‘Este trabalho levou cerca de um ano para ser feito’, lembra o professor. A pesquisa L. Pfaffia mosaic vírus: a new potyvirus found infecting Pfaffia glomerata in Brazil, foi publicada em 2004 na revista inglesa Plant Pathology, da British Society for Plant Pathology.

‘Para-tudo’

A Pfaffia glomerata segundo a literatura sobre plantas medicinais, também é conhecida como ‘para-tudo’, ‘suma’ ou simplesmente ‘fáfia’. De acordo com o livro PLantas Medicinais no Brasil (H. Lorenzi e F.J. Abreu Matos. Nova Odessa, Inst. Plantarum. 2002), populações indígenas da Amazônia já utilizavam, há centenas de anos, as raízes da Pfaffia como calmante e contra úlceras, bem como tônico rejunvenecedor e afrodisiáco. Na Europa tem sido usado para balancear funções endócrinas, reforçar o sistema imune e reduzir colesterol, entre outras aplicações. Há cerca de 15 anos, a planta vem sendo alvo de extração predatória e seu princípio ativo é encontrado unicamente na raiz.

Antonio Carlos Quinto – Agência USP