USP: Estudo descreve comportamento reprodutivo de peixes ‘sargentos’

Tese foi defendida no departamento de Zoologia da universidade

ter, 27/07/2004 - 9h43 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Lucas Oliveira Telles

Ao contrário das fêmeas, os machos adultos são territorialistas e acompanham o desenvolvimento dos ovos, até a eclosão

Quanto mais um animal cuida dos filhotes que tem, menos tempo ele deve investir em outras crias e acasalamentos para garantir a sobrevivência de sua prole. Esta hipótese é reforçada num estudo apresentado no Instituto de Biociências (IB) da USP.

Em sua dissertação de mestrado, defendida no Departamento Zoologia do IB, o biólogo Eduardo Bessa buscou descrever o comportamento, as relações com o ambiente e a anatomia reprodutiva de quatro espécies de peixes da família Pomacentridae.

Entre os peixes estudados, o mais conhecido é popularmente chamado de sargento (Abudefduf saxatilis), encontrado em todos os mares tropicais e subtropicais do mundo e muito comum no litoral paulista. Na época da reprodução, as fêmeas se aproximam do fundo rochoso e deixam os óvulos (ou ovócitos), que aderem ao piso, formando uma mancha de cerca de 30 centímetros (cm) de diâmetro. Em seguida, os machos espalham seus espermatozóides, fecundando as células.

Ao contrário das fêmeas, que procuram outros locais para se reproduzir, os machos adultos são territorialistas e acompanham o desenvolvimento dos ovos, até a eclosão. ‘Entre os peixes, é comum haver o cuidado paternal, porém o vigor com que o sargento defende sua cria é notável. Ele ainda deixa a área completamente limpa, retirando os detritos com a boca e batendo as nadadeiras próximo à mancha, de forma a aumentar a circulação de água e melhorar a oxigenação dos embriões’, diz Bessa.

O sargento possui de 10 a 17 cm de comprimento, tem o corpo ovalado e achatado, com cinco listras pretas. O dorso é mais escuro que a barriga e apresenta tons de amarelo ou outros próximos do azul. Depois da eclosão dos ovos, os alevinos permanecem junto ao costão, de que dependerão por toda a vida para se reproduzirem e se alimentarem, com larvas de moluscos e de crustáceos e algas. Quando jovem, o sargento forma grupos de 5 a 30 indivíduos. Adulto, torna-se solitário.

Cabelo em ovo

O biólogo chama atenção para outra curiosidade: nos ovos destas espécies, são encontrados fios parecidos com cabelos. ‘A expressão ‘enxergar cabelo em ovo’ não deve mais ser usada para se referir ao que não existe’, brinca o pesquisador. ‘Essas espécies vivem junto a costões rochosos marítimos e os ‘pêlos’ servem para auxiliar na fixação dos ovos à rocha. É claro que não têm a mesma função com a qual estamos acostumados, cobrindo a pele de outros animais.’

Eduardo Bessa explica ainda que a presença de ‘pêlos’ em ovos de peixe já era conhecida dos pesquisadores, e dá como exemplo o peixe-rei, que tem um tipo de vida parecido com o do sargento.

V.C.