USP: Estudo analisa consumo de gorduras em descendentes de japoneses

Imigração mudou hábitos alimentares, aumentando o consumo de gordura animal e açúcares

ter, 13/04/2004 - 19h42 | Do Portal do Governo

Japoneses que imigraram para o exterior mudaram seu padrão de dieta, passando a ingerir mais gorduras e açúcares, o que aumentou os níveis de colesterol total no sangue. A constatação foi feita por Teresa Gontijo de Castro em dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O estudo analisou os hábitos alimentares e o consumo de gorduras numa população de descendentes de japoneses em Bauru (interior de São Paulo), que apresenta elevada incidência de diabetes e doenças associadas.

Segundo Teresa Gontijo, a pesquisa apontou que no período de 1993 a 2000 houve uma tendência dos descendentes de japoneses em adotarem dietas mais saudáveis, com menores teores de gordura saturada e colesterol. ‘Apesar da ingestão total de gorduras ter aumentado no período, isto se deveu ao aumento consumo de ácidos graxos insaturados (óleos e azeites), mais benéficos à saúde’, afirma.

Para realizar a pesquisa, Teresa utilizou os dados obtidos com medidas bioquímicas, antropométricas e de consumo alimentar de 328 descendentes de imigrantes japoneses de primeira (issei) e segunda (nissei) gerações de Bauru (interior de São Paulo), com idades entre 40 e 79 anos e de ambos os sexos. As informações foram reunidas em 1993 e 2000 pelo Grupo de Estudo de Diabetes de Nipo Brasileiros de Bauru, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), para detectar mudanças no padrão alimentar e nos níveis de lipídeos séricos (colesterol total, LDL, HDL e triglicérides).

Migração

Teresa afirma que a importância de verificar o nível de lipídeos séricos entre os descendentes de japoneses se deve à elevada prevalência de dislipidemias (diabetes e doenças associadas) nesta população. ‘Em 2000, cerca de 90% dos descendentes japoneses de Bauru apresentavam dislipidemias’, aponta. ‘A prevalência de diabetes observada nesta população (36,2% em 2000) é maior que a observada no Brasil e no Japão, e está entre as maiores do mundo.’

A imigração de japoneses, explica Teresa Gontijo, gera mudanças no padrão alimentar que influenciam diretamente na saúde dos descendentes. ‘Estudos com imigrantes que se fixaram nos Estados Unidos mostram que o consumo calórico destes é semelhante ao dos japoneses no Japão, mas a constituição da dieta mudou, influenciando na qualidade das calorias ingeridas’, explica. ‘Os descendentes adotam um padrão de dieta diferente da dieta típica japonesa, ingerindo mais gorduras saturadas (de origem animal) e açúcares, o que pode contribuir para o aumento do colesterol sérico’.

A pesquisadora afirma que as conclusões do estudo serão utilizadas no aconselhamento nutricional dos descendentes de japoneses em Bauru. ‘O consumo de fibras, presentes naturalmente nos vegetais e frutas frescas pode ser incentivado para auxiliar na redução dos níveis de colesterol total’, explica. ‘Níveis altos de lipídeos no sangue estão entre os principais desencadeantes de eventos cardiovasculares, que podem ser fatais’. O trabalho foi orientado pela professora Marly Augusto Cardoso, da FSP, com apoio da Fapesp.

Júlio Bernardes – Agência USP