USP: Estímulo a bactérias do solo recupera áreas contaminadas

Testes em laboratório apontam que injeção de nutrientes pode reduzir tempo de descontaminação de solos por petróleo de um ano para dois meses

seg, 13/06/2005 - 20h31 | Do Portal do Governo

Uma nova técnica de recuperação de solos contaminados por derivados de petróleo estimula bactérias do próprio solo com nutrientes a degradarem substâncias tóxicas. Resultados preliminares em laboratório apontam que o tempo de recuperação pode ser reduzido de um ano para dois meses. O método é pesquisado pela química Márcia Bragato, na Escola Politécnica (Poli) da USP

O professor da Poli, Jorge Tenório, que orienta a pesquisa, explica que em casos de contaminação, como em postos de gasolina, o mais usual é remover o solo atingido, tratá-lo em outro lugar e trazê-lo de volta. ‘Com a nova técnica, o solo é tratado no próprio local, por intermédio da injeção de oxigênio e nutrientes, que estimulam os microorganismos que já existem ali a degradarem a matéria orgânica, o que inclui os combustíveis’, afirma.

Na pesquisa, Márcia utilizou amostras de solo com benzeno para simular os componentes mais tóxicos da gasolina. ‘O benzeno, por ser um hidrocarboneto aromático, é cancerígeno, além de aderir ao solo, não sendo facilmente biodegradável’, explica. ‘A literatura aponta que a biorremediação de solos com derivados de petróleo demora cerca de um ano, o que varia com a quantidade do contaminante. Mas os resultados preliminares do estudo apontam que a recuperação pode acontecer em 60 dias.’

Nutrientes

Segundo Márcia, os testes realizados em laboratório verificam se os nutrientes injetados chegariam aos lençóis freáticos do solo. ‘Também é feito um controle de emissões para checar se há emissões desse material sob a forma de gases’, relata. ‘Embora a técnica de injeção seja simples, semelhante à perfuração de poços artesianos, há a preocupação de que os nutrientes não causem impacto ambiental.’

Para a aplicação da técnica em campo será necessário o estudo prévio do local a ser remediado. ‘É preciso saber em que ponto deve ser feita a injeção da solução de nutrientes, para que o sistema hidraúlico do solo funcione’, diz. ‘Nas áreas de Mata Altântica, como em São Paulo, o solo é mais argiloso e retêm mais substâncias tóxicas, por isso os nutrientes dos microorganismos precisam chegar à toda parte.’

O método poderá ser uma alternativa para lidar com o número crescente de áreas contaminadas por combustíveis, especialmente no estado de São Paulo. ‘Normalmente o solo contaminado é tratado por meio do uso em cimenteiras, mas a demanda tem sido muito maior que a capacidade das indústrias de cimento’, afirma Márcia. ‘Como a técnica utiliza os microorganismos do próprio solo, existe a vantagem de não se introduzirem bactérias estranhas ao ecossistema local.’

Júlio Bernardes – Agência USP