Uma nova técnica de recuperação de solos contaminados por derivados de petróleo estimula bactérias do próprio solo com nutrientes a degradarem substâncias tóxicas. Resultados preliminares em laboratório apontam que o tempo de recuperação pode ser reduzido de um ano para dois meses. O método é pesquisado pela química Márcia Bragato, na Escola Politécnica (Poli) da USP
O professor da Poli, Jorge Tenório, que orienta a pesquisa, explica que em casos de contaminação, como em postos de gasolina, o mais usual é remover o solo atingido, tratá-lo em outro lugar e trazê-lo de volta. ‘Com a nova técnica, o solo é tratado no próprio local, por intermédio da injeção de oxigênio e nutrientes, que estimulam os microorganismos que já existem ali a degradarem a matéria orgânica, o que inclui os combustíveis’, afirma.
Na pesquisa, Márcia utilizou amostras de solo com benzeno para simular os componentes mais tóxicos da gasolina. ‘O benzeno, por ser um hidrocarboneto aromático, é cancerígeno, além de aderir ao solo, não sendo facilmente biodegradável’, explica. ‘A literatura aponta que a biorremediação de solos com derivados de petróleo demora cerca de um ano, o que varia com a quantidade do contaminante. Mas os resultados preliminares do estudo apontam que a recuperação pode acontecer em 60 dias.’
Nutrientes
Segundo Márcia, os testes realizados em laboratório verificam se os nutrientes injetados chegariam aos lençóis freáticos do solo. ‘Também é feito um controle de emissões para checar se há emissões desse material sob a forma de gases’, relata. ‘Embora a técnica de injeção seja simples, semelhante à perfuração de poços artesianos, há a preocupação de que os nutrientes não causem impacto ambiental.’
Para a aplicação da técnica em campo será necessário o estudo prévio do local a ser remediado. ‘É preciso saber em que ponto deve ser feita a injeção da solução de nutrientes, para que o sistema hidraúlico do solo funcione’, diz. ‘Nas áreas de Mata Altântica, como em São Paulo, o solo é mais argiloso e retêm mais substâncias tóxicas, por isso os nutrientes dos microorganismos precisam chegar à toda parte.’
O método poderá ser uma alternativa para lidar com o número crescente de áreas contaminadas por combustíveis, especialmente no estado de São Paulo. ‘Normalmente o solo contaminado é tratado por meio do uso em cimenteiras, mas a demanda tem sido muito maior que a capacidade das indústrias de cimento’, afirma Márcia. ‘Como a técnica utiliza os microorganismos do próprio solo, existe a vantagem de não se introduzirem bactérias estranhas ao ecossistema local.’
Júlio Bernardes – Agência USP