USP: Escola Politécnica desenvolve sistemas para tratamentos de efluentes tóxicos

Testes demonstram eficácia dos processos, que poderão ser patenteados e implantados em escala industrial

qua, 18/02/2004 - 13h33 | Do Portal do Governo

Dois recentes estudos desenvolvidos na Escola Politécnica da USP, na área de tratamento de efluentes industriais, estão sendo testados com sucesso. Os métodos visam principalmente minimizar os impactos ambientais causados pelo descarte de efluentes tóxicos.

No Centro de Engenharia de Sistemas Químicos, do Departamento de Engenharia Química da Poli, um grupo de pesquisadores está patenteando um projeto destinado a tratar efluentes na indústria têxtil, que contêm silicone em sua composição. No Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, uma tese de doutorado viabilizou a implantação de uma estação de tratamento de efluentes numa indústria em Americana, no interior de São Paulo.

O processo de degradação de efluentes por meio de processos fotoquímicos de oxidação avançada, desenvolvido no Departamento de Engenharia Química sob a coordenação do professor Cláudio Augusto Oller do Nascimento, funciona em escala piloto no próprio Departamento. ‘O projeto possibilita a separação do silicone, componente usado na indústria textil para o amaciamento de fibras’, explica o professor. O processo usa a reação entre o peróxido de hidrogênio e ferro, submetida à radiação ultravioleta.

‘O silicone não é biodegradável, não sendo portanto suscetível a processos biológicos de degradação’, explica Oller. ‘Atualmente, as indústrias têxteis depositam seus efluentes em locais específicos. Atualmente, os resíduos líquidos contendo silicone são incinerados, o que acarreta em custos com armazenamento e transporte’, calcula o professor.

O pesquisador associado, Antonio Carlos Silva Costa Teixeira, que integra a equipe do professor Oller, destaca a economia do sistema. ‘Além de poder usar a energia solar, podemos reaproveitar a água que será separada no tratamento’, afirma. A radiação ultravioleta tanto pode ser produzida por uma lâmpada especial como pela própria luz do Sol. Para tanto, os pesquisadores construíram um sistema de captação de luz solar. ‘O método torna o silicone insolúvel, quebrando suas moléculas’, conta o pesquisador. Teixeira destaca ainda que o processo demanda pouco espaço físico e recursos financeiros.

O sistema desenvolvido no Departamento de Engenharia Química da Poli está sendo patenteado e, segundo os pesquisadores, poderá ser implantado, em breve, em escala industrial. Recentemente, o projeto foi vencedor, entre cerca de 70 trabalhos, do Prêmio Nacional do Encontro de Aplicações Ambientais de Processos Oxidativos Avançados/ 2003. O encontro é realizado há cada dois anos. Além dos professores Oller e Teixeira, integra a equipe o professor Roberto Guardani, também do Departamento de Engenharia Química da Poli.

Experiência concreta

Na Degussa Brasil Ltda, indústria de especialidades químicas, localizada em Americana, no interior de São Paulo, uma tese de doutorado defendida no Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Poli, viabilizou a instalação de uma estação de tratamento de efluentes. De acordo com o engenheiro civil Jader Viera Leite, a estação já está em funcionamento e conta com aprovação dos órgãos ambientais.

Em sua tese de doutorado Tratamento de Águas Residuárias de Indústrias Químicas por Processos Oxidativos Avançados (POA) – Estudo de caso, Vieira Leite utilizou, basicamente, o mesmo processo: a reação do peróxido de hidrogênio com ferro catalisada com luz ultravioleta. ‘Trata-se do primeiro projeto em escala industrial’, afirma o engenheiro. Desenvolvido para tratar efluentes com altas cargas de toxicidade, o sistema implantado na empresa fragmenta os diversos compostos do efluente para que estes possam ser mais facilmente degradados biologicamente.

Sob a orientação da professora Dione Mari Morita, o estudo foi viabilizado em conjunto com a Unicamp, sob co-orientação do professor Wilson Figueiredo Jardim, e teve a colaboração da própria empresa. Segundo Vieira Leite, seu sistema também é mais econômico em relação aos métodos convencionais para efluentes com alta toxicidade e alta carga orgânica. ‘Com a diminuição do espaço requerido e maior controle do processo há uma economia de recursos’, garante.

Na Degussa, em Americana, a estação de tratamento trata dos efluentes com altas concentrações de formaldeídos e ácidos carboxílicos de difícil degradação. ‘Além do mais, o tratamento não produz lodo, comum nestes casos. Após o tratamento, o efluente segue para o processo tradicional de degradação biológica’, explica o engenheiro. Depois de três anos de estudos, a estação de tratamento começou a operar há cerca de dois anos sendo totalmente concluída em julho do ano passado.

Mais informações pelo (0xx11) 3091-2246, no Departamento de Engenharia Química da Poli, com o professor Cláudio Augusto Oller do Nascimento; e-mail oller@usp.br; ou com o pesquisador associado, Antonio Carlos Silva Teixeira; (0xx11) 3146-4179, com o engenheiro Jader Oliveira Leite; e-mail jader.leite@degussa.com

Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias