USP: Esalq desenvolve métodos para recuperação de áreas degradadas

Trabalho é desenvolvido depois de observações de florestas naturais

seg, 23/06/2003 - 18h45 | Do Portal do Governo

O Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, desenvolveu e vem aplicando métodos alternativos para a recuperação de áreas degradadas, que podem reduzir os custos de recuperação em até 40%.

‘As técnicas não são baseadas em métodos puramente agronômicos. Partimos de observações de florestas naturais com o objetivo de recuperar a biodiversidade’, explica o professor Sérgius Gandolfi, do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq. ‘Nos projetos de reflorestamento e recuperação trabalhamos sempre com a flora regional, o que resulta numa escolha mais eficiente de espécies a serem replantadas. Isso representa cerca de 80% do sucesso de nossos projetos, principalmente em matas ciliares’, conta o pesquisador.

Até recentemente, apenas um único método de reflorestamento era utilizado, que era o simples plantio de espécies em áreas degradadas. ‘Além de caro, o procedimento nem sempre dá resultados positivos’, avisa Gandolfi. Nas áreas a serem recuperadas, os pesquisadores da Esalq avaliam o estado de degradação local, a capacidade de auto-recuperação ainda existente e proximidade com florestas remanescentes. A partir disso, e de acordo com a gravidade, uma ou algumas das 13 alternativas de recuperação desenvolvidas podem ser prescritas. Os métodos vão do simples isolamento de uma área até o replantio total da floresta no local degradado.

Classificação das árvores

As árvores de uma floresta são classificadas em três tipos: as plantas pioneiras, que crescem rapidamente em ambientes iluminados e têm vida curta; as plantas clímax, de crescimento lento em locais sombreados e com vida longa; e as secundárias iniciais, que vivem cerca de 25 anos e que apresentam um comportamento intermediário em relação as outras duas espécies.

Esse tipo de conhecimento permite aos pesquisadores determinar a quantidade e a combinação de espécies a serem implantadas para que a floresta seja recomposta. ‘Utilizando este método conseguimos recuperar, já de início, cerca de 50% da diversidade arbórea original’, avalia o professor.

Em outros casos, pode se aplicar apenas o revolvimento do solo. ‘As sementes encontram-se na próprio terra que, ao ser revolvida, propiciará o ressurgimento local de parte das espécies perdidas, por vezes complementado com a chegada de outras trazidas por pássaros desde florestas vizinhas. Denominamos esse método de manejo do Banco de Sementes’, conta Gandolfi

Tecnologia disponível

Num estudo atual, os pesquisadores da Esalq dividiram o estado de São Paulo em seis regiões e nelas estão marcando cerca de 15 mil árvores. ‘Conseguimos selecionar 120 espécies adequadas a cada região, o que permitirá a produção de mudas específicas a cada local. Até o final do ano, todas essas informações estarão disponíveis num site na internet. O objetivo é democratizar esses dados’, garante Gandolfi.

Segundo o pesquisador, em toda a Região Sudeste do Brasil, as áreas mais críticas são as das matas ciliares que margeiam rios. Estas áreas estão bastante degradadas o que chega a interferir no abastecimento de água. ‘Isso porque a mata ciliar segura os poluentes provenientes de áreas agrícolas. Sem essa defesa, os rios são poluídos’, explica o pesquisador. Dependendo do método escolhido, em dois anos ou menos é possível se recuperar áreas degradadas. Contudo, para que uma floresta atinja sua idade madura levará mais de 50 anos.

O coordenador do laboratório, professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, informa que por intermédio das técnicas e estudos desenvolvidos na Esalq cerca de 1.100 hectares de matas ciliares, 90% delas no estado de São Paulo, já foram recuperadas sem gastos públicos nos últimos 3 anos. ‘Temos um cronograma de recuperação de cerca de 600 hectares/ano nos próximos dez anos’, antecipa. Este planejamento envolve os projetos que o laboratório desenvolve para usinas canavieiras, empresas de papel e celulose, agrícolas e companhias estatais.

‘Além dos projetos, orientamos empresas e entidades a recuperar áreas degradadas e, em seguida, a não prosseguirem com processos de degradação. Alguns beneficiários de nossos projetos já estão totalmente auto-suficientes’, conta. Segundo o professor, os pesquisadores também atuam junto a pequenos proprietários e em assentamentos rurais.

Da Agência USP de Notícias/ Antonio Carlos Quinto/ L.S.