USP: Dosagem mínima de nitrato de prata controla derrame

Nitrato é opção ao uso de talco para tratar o acúmulo excessivo de água na cavidade pleural

ter, 07/12/2004 - 18h28 | Do Portal do Governo

Um grupo de pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC/FM) da USP obteve êxito no tratamento de derrame pleural usando uma quantidade mínima de nitrato de prata. A técnica já era usada em várias partes do mundo entre 1950 e 1960, mas foi abandonada nas décadas seguintes porque se usava uma alta concentração (de 1% a 10%) da substância, o que prejudicava o tecido pulmonar, pois o nitrato é muito corrosivo.

‘Ao reduzir a concentração de nitrato de prata para 0,5%, conseguimos controlar o derrame pleural em mais de 90 entre 100 casos analisados sem maior dano para o pulmão’, conta o pneumologista do HC e professor da FM, Francisco Vargas. O professor explica que o nitrato de prata é uma substância fácil de ser encontrada. ‘Procurávamos um tratamento que fosse pouco agressivo e que pudesse ser feito em ambulatórios de qualquer lugar do mundo’, conta.

A doença, caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido na cavidade pleural – espaço entre as pleuras, que são membranas que revestem os pulmões e a parte interna do tórax – acomete freqüentemente pacientes de câncer de pulmão e de mama, atingindo entre 40 e 50 mil pessoas por ano no Brasil. Quando não tratado, pode levar à morte por insuficiência respiratória.

O acúmulo excessivo de água na cavidade pleural também pode ser tratado por meio de cirurgia (pleurodese clássica). Porém, para os pacientes já debilitados em razão do câncer, o nitrato de prata apresenta mais vantagens no controle da doença, como o fato de não ser necessário internar o doente para aplicar a substância.

Talco

Nas décadas de 70 e 80, médicos de todo o mundo passaram a usar talco para tratar derrame pleural. ‘Fizemos uma pesquisa comparativa com mais de cem pacientes tratados com nitrato de prata e os resultados foram idênticos aos que se obtém com talco, mostrando que as duas substâncias controlam a doença’, conta o pneumologista.

Apesar da eficácia do tratamento com talco, essa prática pode causar insuficiência respiratória em até 10% dos casos. ‘Isso acontece provavelmente em razão do tamanho das partículas. Quando a solução com talco é injetada na cavidade pleural, as partículas menores podem ir para a circulação e desta para todo o organismo já nas primeiras 24 horas’, explica.

De acordo com Vargas, os estudos com as dosagens mínimas de nitrato de prata começaram há dez anos, nos Estados Unidos. O médico conta que há vários trabalhos publicados sobre o tema, cujas pesquisas tiveram apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Segundo o pneumologista, o nitrato de prata já voltou a ser usado em outros países como Estados Unidos, Colômbia e Inglaterra. Entretanto, o tratamento para derrame pleural continua sendo feito com talco e as pesquisas realizadas no HC visam comparar a eficiência das duas substâncias.

Valéria Dias – Agência USP