USP: Dieta de adolescentes substitui carboidratos por lipídios

Pesquisa revela que adolescentes com sobrepeso ingerem, em média, 40% a menos de carboidratos e 50% a mais de lipídios que o recomendado

qui, 02/06/2005 - 18h17 | Do Portal do Governo

A troca de carboidratos por lipídios na dieta de adolescentes pode ser uma das maiores responsáveis pela tendência de sobrepeso nesta faixa etária. ‘A dieta tradicional de arroz, feijão, bife e salada está sendo substituída por lanches, salgadinhos e refrigerantes’, afirma Nelson Nardo Júnior, que em fevereiro apresentou sua tese de doutorado sobre o tema a um programa interunidades de pós-graduação da USP.

Nardo Júnior acompanhou os hábitos alimentares e o nível de atividade e aptidão físicas de adolescentes entre 13 e 17 anos de uma escola em Maringá (PR). De acordo com a pesquisa, os alunos com alto Índice de Massa Corporal (IMC) ingeriam quase 40% a menos de carboidratos e 50% a mais de lipídios que o recomendado. ‘Um fato que influencia esta substituição é a indicação genérica, feita por muitas dietas de redução de peso, de que seja diminuída a quantidade de carboidratos nas refeições diárias’, diz.

O pesquisador acrescenta ainda que uma dieta desbalanceada como essa pode ser um fator de risco no desenvolvimento de uma série de complicações para a saúde, como colesterol alto, doenças cardiovasculares e obesidade. ‘Estes adolescentes comem muito mal. Falta uma educação nutricional para instruí-los a se alimentar direito.’

Segundo ele, problemas característicos de adultos, também conhecidos como doenças das sociedades desenvolvidas, estão chegando mais cedo para estes adolescentes, em grande parte por causa da má alimentação. Entre estes males precoces, estão a diabetes tipo 2, a dislipidemia (aumento anormal da taxa de lipídios no sangue) e a pressão alta, entre outras. Esta propensão mundial, que já foi comprovada por pesquisas em diversos países industrializados, parece ser inevitável. ‘Nenhum país conseguiu reverter esta tendência do sobrepeso.’

Aptidão física
Outra constatação do estudo é que os jovens que obtêm um bom desempenho nos testes físicos, como de corrida, têm menos chances de estar com o IMC elevado. Esta parte da pesquisa será apresentada no 10º Congresso Anual do Colégio Europeu da Ciência do Esporte, que acontece na cidade de Belgrado (Iugoslávia) entre os dias 13 e 16 de julho.

Apesar de parecer uma conclusão óbvia, ela revela que o excesso de peso gerado pela má alimentação coloca os adolescentes um uma espécie de ciclo vicioso. ‘O sobrepeso acaba por restringir a atividade física do indivíduo, diminuindo assim a aptidão física’, explica. Assim, eles tendem a praticar cada vez menos exercícios, tornando-se mais suscetíveis à obesidade.

No estudo , que foi orientado pelo professor Julio Tirapegui, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Nardo Júnior aferiu medidas antropométricas e realizou testes motores com 205 adolescentes, predominantemente das classes sociais C e B. Os resultados foram cruzados com dados de 97 fichas de registros alimentares e atividade física, preenchidas pelos próprios jovens.

A pesquisa foi elaborada dentro do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada, que engloba a FCF, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e a Faculdade de Saúde Pública (FSP), todas da USP.

André Benevides – Agência USP