Pesquisador descreve, pela primeira vez no Brasil, vespas masculinas da família Agaonidae, da espécie Pegoscapus tonduzi, com características de ambos os sexos. Estas vespas tinham asas, encontradas somente nas fêmeas, e coloração castanho claro, que se vê somente nos machos. ‘Encontramos apenas oito insetos com estes aspectos, fenômeno denominado ginandromorfismo. Havia também diferenças nas pernas e antenas’, conta Rodrigo A. Santinelo Pereira, pós-doutorando do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP de Ribeirão Preto.
As vespas ginandromórficas foram encontradas em figos de figueiras nativas (Fícus citrifolia), espécie não-comercial e comum em ambientes urbanos. O achado inédito de Pereira ocorreu quando ele estudava o comportamento dos insetos na cidade de Campinas, interior de São Paulo. ‘Depois de estudar mais de mil vespas, descobri estes insetos. O ginandromorfismo já foi descrito em outras espécies de abelhas e vespas, mas na família Agaonidae, foi a primeira vez’, conta. O estudo de Pereira foi publicado em junho de 2003 no jornal norte-americano Entomological News, da American Entomological Society, de Philadelphia, EUA, e veiculado recentemente.
Pereira conta que sua descoberta se deu ‘por acaso’. Desde 1998, durante seu doutoramento em Ecologia, na Unicamp, o pesquisador estudava a disputa entre os machos de Agaonidae por acasalamentos. ‘Me correspondia com cientistas franceses que, na década de 80, também observaram esse fenômeno em vespas polinizadoras do figo comestível. A descoberta das vespas ginandromórficas aconteceu paralelamente e, devido à importância científica do fato, decidimos pela publicação’, diz. As anomalias encontradas nos insetos, segundo o pesquisador, abrem caminho para melhor entender a determinação do sexo em outros grupos de vespas.
Pereira explica que um dos fatores que determinam o sexo das vespas é a fertilização dos ovos. ‘Quando eles são fertilizados, o embrião terá dois conjuntos de cromossomos, o que implica no nascimento das fêmeas. Ovos não fecundados geram apenas machos’, explica. O pesquisador lembra ainda que as coletas foram feitas num mês de agosto. ‘Períodos frios podem ter induzido a esta anomalia’, avalia.
Os frutos das figueiras nativas não servem apenas como ambiente para as vespas. ‘Eles servem como alimentos para morcegos, pássaros, quatis e algumas espécies de lagartos’, descreve Pereira. Bastante comum no ambiente urbano, o Fícus citrifolia é encontrado em todo o Brasil, desde Foz do Iguaçu até a Amazônia.
Antonio Carlos Quinto, da Agência USP
M.J.