USP: Crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho diminuiu desigualdade

Pesquisa foi feita pelo economista Luiz Guilherme da Silva Scorzafave

qua, 01/12/2004 - 14h46 | Do Portal do Governo

Uma simulação inédita no cenário econômico brasileiro mostra como o ingresso da mulher no mercado de trabalho, entre 1982 e 1997, ajudou a diminuir a desigualdade na distribuição de renda no País. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o economista Luiz Guilherme Dácar da Silva Scorzafave calculou que o índice de desigualdade de 1997, em relação a 1982, cresceu 0,35%. Em sua simulação, sem o aumento da participação da mulher no mercado, o índice cresceria 1,6%.

‘Se as mulheres não tivessem entrado no mercado, esta desigualdade seria um pouco maior’, afirma Scorzafave, que defendeu seu doutorado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

No entanto, os cálculos o fizeram chegar à conclusão de que, se a distribuição de renda de cada pessoa melhora, a desigualdade da renda per capita familiar aumenta. Fato aparentemente dissonante, Scorzafave diz que sua pesquisa não chegou a responder esta questão, mas que continua a estudar o tema.

Mulheres e maridos

A pesquisa de Scorzafave é baseada em três partes: uma primeira, com o perfil das mulheres que entraram no mercado de trabalho; uma segunda, apenas para as mulheres casadas, de acordo com a renda do marido; e a simulação estatística da ausência desta força de trabalho.

Na primeira parte, pôde-se constatar que as mulheres casadas foram as grandes responsáveis pelo crescimento da Taxa de Participação na Força de Trabalho (TPFT). Segundo o pesquisador, um dos fatores de maior relevo para a participação feminina é a quantidade de anos de estudo, cuja média sofreu um aumento no intervalo estudado. ‘O fato de elas poderem estudar mais anos tem contribuído bastante para seu comprometimento com o mercado’, diz ele. Scorzafave aponta ainda uma relação direta entre educação e participação: ‘Quanto mais educada, mais chances ela tem de entrar no mercado’.

Dentro das expectativas, foi constatado que mulheres com menos filhos tendem a ter um maior engajamento com o mercado de trabalho. ‘ Em geral, acaba sobrando mais tempo para ela se dedicar à vida profissional’, explica. O pesquisador ressalta também o registro de que, entre as mulheres, as casadas foram as grandes contribuintes no crescimento da TPFT feminina.

Com estas informações, Scorzafave traçou um perfil médio da mulher que entrou no mercado de trabalho entre 1982 e 1997: ‘São mulheres casadas, com uma educação intermediária, entre 35 e 39 anos e com dois filhos’.

Creches

Em meio a tantos gráficos e análises estatísticas, o estudo de Scorzafave faz uma recomendação prática que poderia ter impacto direto na participação feminina no mercado: um esforço para proporcionar mais acesso da população carente a creches. ‘Essa política é muito importante para que essas mulheres possam trabalhar e sair da situação de pobreza. A dificuldade de acesso limita a mulher para exercer esse papel’, conclui.

Da Agência USP

M.J.