USP: Creatina diminui perda de massa muscular durante imobilização

Substância é eficaz quando sua ingestão é associada a exercícios físicos e precede o período de restrição

sex, 29/10/2004 - 18h57 | Do Portal do Governo

Uma aplicação prática do estudo seria a ingestão prévia de creatina, acompanhada de treinamento, por parte de atletas que serão submetidos a cirurgias e, portanto, a grandes períodos de imobilização.

A creatina, suplemento alimentar que promove ganho de massa muscular quando associado à atividade física, diminui o grau de atrofia em músculos submetidos à imobilização. Um estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostra que ratos submetidos à imobilização, e que receberam suplementação prévia da substância, tiveram a perda de massa muscular reduzida em aproximadamente 43%.

O professor de Educação Física e doutorando do ICB, Marcelo Saldanha Aoki, autor do estudo, explica que a creatina é produzida naturalmente pelo organismo e obtida por meio da alimentação. ‘Quando utilizada como suplemento, provoca o aumento de massa muscular’, descreve.

Saldanha dividiu as cobaias em três grupos. O chamado ‘grupo controle’ foi submetido à imobilização durante sete dias e não recebeu doses de creatina. ‘Verificou-se que, neste grupo, houve uma perda de massa muscular correspondente a 35%’, conta.

Um segundo grupo ingeriu creatina apenas durante o período de imobilização e não obteve melhoras no nível de atrofia. A redução da perda de massa muscular – de 35% para 20% – aconteceu somente no terceiro grupo, que recebeu creatina sete dias antes da imobilização e também durante o período de restrição dos movimentos

De acordo com o pesquisador, a suplementação só foi eficiente quando realizada previamente à imobilização. ‘O transporte da creatina depende da contração muscular e da ação da insulina. O músculo imobilizado reduz dramaticamente sua atividade contrátil e, além disso, apresenta resistência à ação da insulina’, explica. Segundo ele, uma aplicação prática desse estudo seria a ingestão prévia de creatina, acompanhada de treinamento, por parte de atletas que serão submetidos a cirurgias e, portanto, a grandes períodos de imobilização.

Consumo regular

O pesquisador informa que um estudo realizado durante os Jogos Olímpicos de 1996 mostrou que cerca de 80% dos atletas ingeriam creatina regularmente. De acordo com um levantamento que data de 1999, aproximadamente 2,7 mil toneladas da substância, por ano, são consumidas no mundo.

Vale ressaltar que a creatina não faz parte dos popularmente conhecidos anabolizantes, hormônios sintéticos capazes de provocar alterações graves no organismo. Segundo Saldanha, apesar de haver preocupação com relação a efeitos colaterais da creatina, não há nada comprovado. Há suspeitas de que a substância sobrecarregue os rins e o fígado devido ao aumento da quantidade de nitrogênio no organismo.

‘Um estudo realizado no ano passado (publicado no periódico Nephrol Dial Transplant, volume 18, número 2), no entanto, não verificou a ocorrência desses efeitos. Os pesquisadores lesionaram os rins de ratos que, em seguida, receberam doses de creatina, e não houve influência sobre a função renal’, aponta o pesquisador.

O estudo de Saldanha foi publicado neste ano no periódico Internacional Clinical Nutrition, volume 23, número 5

Flávia Souza, da Agência USP

M.J.