USP: Cirurgia sem sangue reduz riscos de contágio de doenças

Técnicas diminuem necessidade de transfusão sanguínea em cirurgias de grande porte, mostra pesquisa da FMRP

qui, 18/08/2005 - 9h17 | Do Portal do Governo

O número de pacientes que recebem transfusões de sangue em procedimentos cirúrgicos de maior porte é grande, mas pode diminuir com estratégias de cirurgia sem sangue. ‘A principal delas é a tolerância do médico à anemia do paciente’, aponta a médica anestesista Daniela Rocha Gil, em dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

‘A tolerância do paciente à anemia deve ser levada em conta antes, durante e depois da cirurgia’, diz. ‘A anemia é causada pela perda de hemoglobina do sangue, que reduz o transporte de oxigênio aos órgãos do corpo e debilita o paciente.’

Daniela aponta que o nível ideal de hemoglobina no corpo gira em torno de 12 a 15 gramas por decilitro (g/dl), mas muitos médicos indicam a transfusão sangüínea quando os valores atingem 8 g/dl. ‘Na pesquisa, encontramos pacientes com valores muito inferiores, como 3 g/dl, e mesmo não recebendo sangue, sobreviveram’, relata. ‘A pesquisa mostra que cada paciente possui um grau de tolerância à anemia e que a transfusão não deve ser indicada com base apenas no valor da taxa de hemoglobina.’

Daniela estudou no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, 11 pacientes Testemunhas de Jeová submetidos a cirurgias de grande porte. ‘Esta religião não permite transfusão sangüínea, mas qualquer que seja a crença do paciente, a cirurgia sem sangue pode ser usada como alternativa para evitar o risco do contágio de doenças como aids, hepatites B e C e HTLV nas transfusões’, afirma. ‘O estudo mostra que é possível minimizar o número de transfusões sangüíneas no período intra-operatório.’

Alternativas

Uma opção de cirurgia sem sangue é a de administrar eritropoetina ao paciente. ‘Esta substância estimula o aumento dos valores de hemoglobina no sangue e deve ser usada no período pré-operatório, de preferência três semanas antes da data prevista para a cirurgia’, explica Daniela. ‘Outra alternativa é usar substâncias que favorecem a coagulação e minimizem a perda sanguínea intra-operatória.’

Existe a opção de utilizar uma máquina que recupera o sangue que seria perdido no período intra-operatório. ‘O aparelho aspira o sangue do campo operatório e consegue processá-lo para posterior re-infusão no paciente’, diz a médica. ‘No entanto, a máquina recupera só metade do sangue perdido e seu uso não é recomendado em cirurgias oncológicas, pelo risco de re-contaminação.’

Na maioria dos casos pesquisados foi usada a hemodiluição normovolêmica, para reduzir a perda sangüínea no período intra-operatório. ‘O sangue do paciente é retirado e mantém-se o volume sanguíneo com a infusão de outros líquidos, em geral solução fisiológica, mas com uma quantidade muito menor de hemoglobina, reduzindo sua perda na cirurgia’, explica a médica. O sangue retirado fica armazenado para ser re-infudido ao final do procedimento ou quando for absolutamente necessário. ‘Esta técnica é de baixo custo, eficaz e segura’.

Daniela alerta que os métodos de cirurgia sem sangue não estão disponíveis em todos os centros médicos do País. ‘O ideal seria associar várias estratégias concomitantes, como o uso de eritropoetina e a hemodiluição, para reduzir a perda sanguínea, como foi feito na maior parte dos pacientes estudados.’ O trabalho foi orientado pelo anestesista do HC de Ribeirão Preto e professor da FMRP, Luís Vicente Garcia.

Júlio Bernardes – Agência USP