USP: Cientistas isolam células precursoras de mastócitos

Estudo identifica precursor de célula responsável por processos alérgicos e inflamatórios

qui, 24/03/2005 - 20h41 | Do Portal do Governo

Boa notícia para portadores de asma e de doenças alérgicas. Pela primeira vez, cientistas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) identificaram e isolaram células precursoras de mastócitos da medula óssea de ratos. A descoberta poderá viabilizar o desenvolvimento de novas terapêuticas para o tratamento destes males

‘Mastócitos são células que têm papel importante em processos alérgicos e inflamatórios’, destaca Maria Célia Jamur, professora visitante do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) que coordenou as pesquisas. ‘Estas células possuem em seu interior pequenos compartimentos (grânulos) que contém grandes quantidades de substâncias químicas ativas, como a histamina’, explica a professora.

Os mastócitos possuem em sua superfície moléculas receptoras para a Imunoglobulina E (IgE), um anticorpo. Quando substâncias estranhas, os antígenos, se ligam a estas IgEs, ocorre um estímulo nos mastócitos, que passam a liberar as substâncias dos seus grânulos para todo o corpo. ‘Esta é a resposta da célula que vai desencadear alergia e processos mais complexos como a asma’, diz a pesquisadora. ‘Para conter estes processos alérgicos as pessoas tomam medicamentos conhecidos com anti-histamínicos’.

Até esta pesquisa, a célula precursora que dá origem ao mastócito ainda não era conhecida. Segundo Maria Célia, estudos indiretos mostraram que os mastócitos têm origem na medula óssea e, ainda jovens, vão para os tecidos onde amadurecem. Os precursores das células do sangue foram identificados há muito tempo e o seu conhecimento tem sido importante no diagnóstico e controle de muitas doenças.

‘Com certeza a identificação do precursor de mastócitos irá abrir caminhos para terapias futuras que controlem a proliferação destas células durante as doenças onde estão envolvidas. Sabemos por exemplo que a mastocitose (aumento de mastócitos) ocorre em outras doenças como Mal de Alzheimer, doenças cardíacas e na esclerose múltipla’, diz Maria Célia.

Esferas magnéticas

‘Obtivemos os precursores de mastócitos da medula óssea utilizando microesferas magnéticas. Elas foram acopladas a um anticorpo que se liga especificamente a uma proteína da superfície destes precursores, que posteriormente, foram isolados com auxílio de um imã potente’, conta a pesquisadora. Após este processo, os precursores foram cultivados e originaram mastócitos maduros que também repopularam de mastócitos os camundongos que foram irradiados.

Maria Célia iniciou o estudo de células precursoras de mastócitos na década de 80, durante o seu doutorado na FMRP. Na década de 90, durante o pós-doutorado nos EUA, aperfeiçoou técnicas para dar continuidade a esta investigação. Este estudo, concluído no início de 2004, foi publicado recentemente como First Edition no site da revista Blood (www.bloodjournal.org), da American Society of Hematology, sob o título Identification and characterization of undifferentiated mast cells in mouse bone marrow e tem como autores: Maria Célia Jamur, Ana Cristina G. Grodzki, Elsa H. Berenstein, Majed M. Hamawy, Reuben P. Siraganian e Constance Oliver.

Antonio Carlos Quinto – Agência USP