USP: Casos de transtornos mentais variam de acordo com sexo, renda e escolaridade

Pesquisa é da Faculdade de Medicina - FMUSP

qua, 16/11/2005 - 12h09 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) avaliou a prevalência dos transtornos mentais comuns – estados de estresse, ansiedade ou depressão que podem evoluir para uma doença psiquiátrica – em populações atendidas pelo Programa Saúde da Família.

O resultado é que 24,1% dos entrevistados apresentavam quadros compatíveis com transtornos mentais, uma proporção considerável, que é ainda maior nas mulheres, nas categorias de menor renda e de menor escolaridade. A pesquisa foi realizada na Vila Nova Cachoeirinha e na Vila Curuçá, na zona Norte e Leste da cidade de São Paulo, respectivamente, de acordo com indicadores como sexo, renda e escolaridade.

‘O combate ao problema não depende só de uma ação em saúde, devendo ser intersetorial, envolvendo áreas como educação, cultura, trabalho e promoção social’, explica o professor Reinaldo Gianini, que participou da pesquisa. A população deve ser informada sobre como enfrentar os transtornos, expondo e verbalizando o que sente.

A construção de redes de apoio familiar e social também é importante, além de atividades físicas e culturais. Os que forem diagnosticados com transtornos mais graves devem ser encaminhados para tratamento adequado, pois, quando os sintomas deixam de ser transitórios indicam quadros neuróticos.

Nível social

Segundo a pesquisa, o número de casos de transtornos mentais em áreas carentes foi consideravelmente maior que a média da cidade de São Paulo. As mulheres são mais suscetíveis -são 28% delas contra 21% dos homens. Isso possivelmente acontece, segundo Gianini, porque costumam ser mais sensíveis, têm maior capacidade de auto-observação, procuram mais freqüentemente o médico e por isso acabam tendo uma melhor percepção de seus sintomas, além da desvantagem social a que estão submetidas.

A escolaridade e a renda são outros fatores de grande influência. Quase 30% dos que vivem com até dois salários mínimos eram suspeitos de transtorno. Entre os que vivem com cerca de 5 salários mínimos, o índice cai para 11 %. Essa diferença pode ser explicada pela falta de alternativas dos desfavorecidos: quanto mais preocupações financeiras, menos possibilidades eles têm de enfrentar o problema, se tratar e buscar outras formas de apoio.

Entre os analfabetos, 39% são suspeitos de terem transtornos mentais, e entre os que têm nível superior, apenas 14%. A escolaridade, além da interferência na renda, influencia na capacidade de racionalizar, de elaborar o problema, projetá-lo e verbalizá-lo. Como a pessoa internaliza muito, acaba sofrendo mais, explica Gianini.

Pesquisa

A pesquisa, feita em 2001, não constatou alterações dos índices entre a área coberta pelo Programa Saúde da Família (PSF) e a restante. Segundo o professor, é possível que na região do PSF existam diferenças que não tenham sido analisadas. ‘Estudamos os suspeitos de transtorno mental. Talvez para os casos confirmados a área do programa seja mais bem atendida ou tenha mais pessoas em tratamento’, diz. Quanto ao índice ser mais alto que a média da cidade, isto acontece por serem regiões muito carentes.

‘Cinco anos é pouco tempo para que se verifique impacto nesse tipo de problema’, considera o pesquisador. ‘Apesar de não ter sido observada uma redução, isso não deve ser considerado um demérito do programa’, garante. A partir desse material pretende-se fazer uma orientação para as equipes de Saúde da Família. Elas poderão ser capacitadas para diagnosticar e lidar com a maior parte destes problemas, que são os distúrbios leves, e encaminhar os mais graves para os especialistas.

Marina Almeida, da Agência USP