A carne de escargot na merenda escolar teve aceitação de 72% entre alunos de escolas rurais no interior de São Paulo. Estudos realizados na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), da USP de Pirassununga, têm como objetivo criar desde a infância o hábito de consumo de escargot. De acordo com a professora Maria de Fátima Martins, que coordena as pesquisas, trata-se de uma carne de baixo custo de produção, rica em cálcio, proteínas e sem colesterol.
A pesquisa foi feita com 320 crianças, de seis a dez anos, alunos de seis escolas da área urbana e da zona rural nos municípios de Pirassununga e Santa Rita do Passa Quatro. ‘O escargot foi oferecido inteiro, preparado com a concha, e na forma de patê, para ser consumido com pão ou torradas’, explica. ‘Entre os alunos da zona rural, a aceitação foi de 72%, e quase todos repetiram a porção para experimentar o prato.’
Maria de Fátima aponta que não houve rejeição ao sabor do escargot e todos os estudantes quiseram levar as conchas para casa. Na zona urbana a aceitação bem menor, em torno de 24%. ‘A formação de vínculo com os animais influencia no consumo’, ressalta. ‘As crianças da zona rural tem mais consciência da criação de animais para abate, enquanto na área urbana eles são vistos como bichos de estimação.’
Trabalho educativo
Segundo a professora, o aspecto visual do escargot contribuiu para a rejeição em parte das crianças. ‘Batido no liquidificador e servido como patê ele é mais aceito pelas crianças, em especial nas preparações com creme de leite, ricota, requeijão e maionese’, diz. ‘Para difundir o consumo, será feito um trabalho educativo sobre a função zootécnica do escargot, seu valor nutritivo e a importância da proteína animal na alimentação.’
A carne do escargot tem alto teor de cálcio, além de traços de ferro e zinco, elementos importantes para o sistema imunológico. ‘Como possui Ph básico, ela é muito indicada para pessoas que tenham gastrite e úlcera’, afirma. ‘O escargot tem somente traços de gordura, não apresentando colesterol.’
A professora relata que o custo de produção de um quilo de escargot é de R$ 1,45. ‘Com um quilo de ração é possível obter um quilo de carne, fato raro na criação animal, pois em um frango, por exemplo, são necessários 2,65 quilos de ração para cada quilo de carne’, afirma Maria de Fátima. ‘A fêmea do escargot põe em média 350 ovos, reproduzindo-se o ano todo e o abate pode ser feito com três meses de vida.’
O Departamento de Produção Animal da FMVZ mantém um criadouro de escargot (heliciário) em Pirassununga para pesquisas. ‘Além de estudos de melhoramento genético, para aumentar a produtividade, é estudado o uso das vísceras do animal para alimentar peixes de criação comercial, com apoio do CNPq’, conta a pesquisadora. As pesquisas sobre o escargot na merenda escolar tem a participação de estudantes do programa Bolsa-Trabalho, da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) da USP.
Júlio Bernardes
