USP: Brasil precisa adotar normas de segurança para concreto em situação de incêndio

Principal preocupação é o comprometimento da estrutura devido ao fenômeno do spalling

ter, 23/09/2003 - 14h48 | Do Portal do Governo

Depois de estudar o comportamento do concreto em situações de incêndio, a engenheira Carla Neves Costa alerta que o Brasil precisa adotar, com urgência, padrões de segurança de normas internacionais neste tipo de construção.

Segundo a engenheira, o fenômeno do lascamento (‘spalling’) das superfícies dos elementos estruturais de concreto pode comprometer as estruturas de concreto de alta resistência, logo nos primeiros minutos do incêndio – mas a adoção de medidas prescritas em normas internacionais poderia minimizar o perigo. O tema foi abordado no mestrado de Carla Neves, apresentado à Escola Politécnica da USP.

A especialista em engenharia de estruturas estudou, com base principalmente em casos de incêndios em túneis e edifícios europeus durante os anos 90, os fenômenos que ocorrem nas estruturas nestas situações. A conclusão é que o concreto de alta resistência (acima de 25 MPa), embora mais resistente em situações normais, é mais perigoso quando submetido a uma ação excepcional como um incêndio de grandes proporções.

A principal preocupação da pesquisadora é a perda de instabilidade da estrutura devido ao fenômeno do ‘spalling’. Como a microestrutura do concreto de alta-resistência é muito densa, o material não permite que os vapores, devido à umidade interna do material, sejam liberados de seu interior com facilidade. ‘Isso faz com que o material lasque, podendo até explodir’, diz.

Segundo a pesquisadora, por apresentar maior resistência, esse tipo de concreto permite a construção de estruturas mais delgadas; entretanto, na hora do incêndio, o calor tende a se propagar para o interior dessas estruturas mais rapidamente, havendo uma tendência de uniformização da temperatura elevada no núcleo das peças.

Desafio

‘A engenharia de segurança contra-incêndio se preocupa em retardar ao máximo o colapso da estrutura, minimizando os riscos para os usuários da edificação. O objetivo é a proteção à vida. O desafio é impedir que o colapso aconteça logo nos primeiros minutos de incêndio – procuramos aumentar o tempo hábil para que as pessoas possam se salvar. Esse é o ´ponto-chave´ do concreto de alta resistência nesses casos – é que ele se degenera com maior rapidez do que os concretos convencionais de baixa resistência.’

Segundo Carla Neves Costa, os efeitos do ‘spalling’ se tornam um perigo à medida em que os concretos utilizados nas construções brasileiras se modernizam, apresentando resistências cada vez maiores. O concreto de baixa resistência, utilizado na maior parte das construções, sobretudo aquelas com mais de 20 anos, requer uma estrutura mais robusta; elementos mais robustos oferecem maior resistência à difusão de calor para o núcleo, conseqüentemente, o núcleo leva mais tempo para aquecer e demora para se degenerar em situações de incêndio.

A pesquisadora diz que as normas podem estabelecer dimensões mínimas para evitar a rapidez da degradação estrutural. Segundo ela, a norma Eurocode 2 Part. 1-2 (2002), usada na Europa e as normas oceânicas (Nova Zelândia e Austrália) poderiam servir de modelo.

Outra providência para minimizar os riscos de ‘spalling’ é a adição de fibras de polipropileno na mistura do concreto. Em caso de incêndio, as fibras se derretem e formam sulcos, criando micro-canais por onde a pressão de vapor interna é liberada. ‘Isso impede a desagregação e a explosão do material’, diz a pesquisadora.

Fabio de Castro – Agência USP