USP: Biossólido aumenta produção de madeira em até 30%

Fertilização em florestas de eucaliptos com o composto de lodo propiciou aumento da produção de madeira

qui, 02/12/2004 - 21h37 | Do Portal do Governo

A utilização de biossólidos, provenientes de estações de tratamento de esgotos, em plantações de eucalipto pode aumentar a produção de madeira em até 30%. Experimentos realizados na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, distante cerca de 170 quilômetros da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, mostraram que o uso deste composto orgânico de lodo de esgoto apresenta vantagens em relação à fertilização mineral, principalmente na preservação do meio ambiente em florestamentos de eucaliptos.

A pesquisa teve como principal objetivo verificar as doses e a forma ideais de se aplicar o produto nas plantações. ‘A idéia é substituir parcialmente os fertilizantes de origem mineral’, conta o professor José Leonardo de Moraes Gonçalves, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq.

O biossólido utilizado foi obtido junto à Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Barueri, em São Paulo. ‘Lá o lodo é submetido a processamento físico e tratamentos de decomposição biológica e higienização’, explica o professor. Alguns experimentos foram conduzidos com o biossólido contendo cerca de 60 % de massa úmida. ‘Atualmente já usamos o produto granulado seco produzido na própria ETE, o que facilita e barateia o transporte’, conta.

Para o professor Fábio Poggiani, do Departamento de Ciências Florestais, os experimentos contribuem como uma solução para o problema do lodo de esgoto produzido nas ETEs. ‘Em breve, a metrópole de São Paulo deverá produzir quase mil toneladas diárias de biossólido’, prevê.

Gonçalves orientou o estudo de mestrado de Gilberto Neves da Rocha, Mudanças na fertilidade do solo e crescimento de um povoamento de Eucalyptus grandis fertilizado com biossólido. Neste estudo constatou-se que houve melhoria da fertilidade do solo, resultando em aumento da produtividade. ‘Também não verificamos, neste caso, contaminação no solo por metais pesados’, conta o orientador.

Poggiani concorda que os ecossistemas agroflorestais podem ser beneficiados com o biossólido que é rico em matéria orgânica e nutriente. Contudo, ele lembra que existem pesquisas em andamento que verificam os impactos do produto no solo, nas plantas e nos aqüíferos. ‘Temos de avaliar o potencial poluente, devido a eventual carga de nitrogênio e de metais pesados’, recomenda. Estes estudos, segundo Poggiani, também são conduzidos por intermédio de teses, dissertações e trabalhos de iniciação.

Recomendações

Os experimentos foram feitos numa área de aproximadamente 4 hectares (40 mil metros quadrados), onde os pesquisadores aplicaram doses entre 10 e 40 toneladas de biossólido (baseado na massa seca) por hectare em cultura de Eucalyptus grandis. Para tanto, foram acrescentadas ao biossólido doses suplementares de potássio. Segundo Gonçalves, as aplicações devem ser feitas a cada sete anos, que corresponde ao ciclo de rotação em florestas de eucaliptos.

Ele também recomenda alguns cuidados na aplicação do biossólido, como usá-lo em áreas de relevo pouco acidentado, não sujeitas a erosão. ‘Deve se evitar o contato direto de pessoas que manuseiam o produto. Ele também não pode ser usado nas proximidades de cursos d’água’, receita. Os experimentos na Estação de Itatinga vêm sendo realizados desde 1998.

Mesmo com as vantagens verificadas, Gonçalves lembra que a utilização de biossólido em culturas de eucalipto ainda depende de regulamentação da Cetesb. ‘Algumas empresas já obtiveram autorização para utilizar o produto em áreas experimentais de 600 a 700 hectares’, lembra.

Antonio Carlos Quinto – Agência USP