USP: Bióloga traça perfil da pesca artesanal no litoral sul de São Paulo

Estudo da pesca artesanal revela uso de rede de arrasto na captura de camarão

ter, 06/05/2003 - 10h15 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial e Agência USP de Notícias


A bióloga Carolina Pacheco Bertozzi realizou um levantamento a respeito da pesca artesanal numa comunidade de Praia Grande, litoral sul de São Paulo. A iniciativa resultou na criação da organização não-governamental Projeto BioPesca, que atua em três comunidades da região e em Mongaguá.

A pesquisadora afirmou que a pesca artesanal é pouco estudada no Brasil e não há estatísticas precisas a respeito da atividade. Na região sudeste, por exemplo, inexistem dados dessa produção. ‘Acredita-se que a atividade no país seja pequena em relação à extensão da costa, mas os dados incluem apenas a pesca industrial. Para que o governo crie uma política correta de desenvolvimento da pesca é necessário organizar a coleta de dados sobre a produção.’

Essas são as conclusões decorrentes da dissertação de mestrado de Carolina, defendida no Instituto Oceanográfico da USP, na qual aborda o trabalho dos pescadores de Praia Grande entre 1999 e 2001 e a captura acidental de animais marinhos não visados pela pesca. Também foram pesquisadas as características sociais do grupo.

Captura acidental

O estudo abordou a captura de espécies que não são o objetivo da pesca. Em Praia Grande, os animais mais atingidos são as toninhas (espécie de golfinho) e as tartarugas marinhas. ‘As toninhas são mais vulneráveis às redes de pesca. Será necessário estudar seu hábitat para determinar o tipo de rede e a época do ano mais indicados para evitar a captura, sem ignorar o sustento econômico dos pescadores.’

O impacto da pesca artesanal na população de peixes da região é pequeno. O maior problema, de acordo com a bióloga, é a pesca de camarões em escala industrial, com o uso de redes de arrasto. ‘A malha retém os peixes mais jovens, reduzindo a reprodução das espécies.’

Respeito ao mar

O estudo aponta a desestruturação da comunidade pesqueira. ‘Antes, famílias inteiras estavam envolvidas, transmitindo conhecimento e uma tradição de respeito ao mar. Hoje, pessoas alheias fazem a atividade e pescam sem conhecer o mar.’

Os barcos são de pequeno porte, produzidos de madeira ou alumínio, movidos a motor, sem nenhum instrumento de orientação e detecção de cardumes. As redes são lançadas e puxadas manualmente. Os peixes mais pescados são corvina, pescada-foguete, guaivira, cação e robalo.

A pesca ocorre na área costeira, até a profundidade de 20 metros. Embora os pescadores trabalhem o ano todo, o maior esforço acontece no verão, devido à presença dos turistas. ‘Em geral, o pescador desembarca os peixes e os vende na praia, sem intermediários.’

(AM)