USP: Bioinseticida à base de fungos ajuda a combater praga que ataca laranjais

Estudo foi feito na Esalq de Piracicaba

qua, 22/09/2004 - 10h08 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por André Benevides

‘A utilização de microorganismos representa uma alternativa prática para os problemas de resistência e de contaminação do meio ambiente, tornando o agroecossistema muito mais sustentável’

O uso de determinadas espécies de fungos entomopatogênicos (microorganismos que causam doenças) ajuda a controlar a cochonilha Orthezia praelonga, um inseto que ataca principalmente laranjais e que pode causar perdas entre 50% e 90% da produção. Bioensaios feitos em laboratórios da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, mostraram resultados mais efetivos que os métodos normalmente utilizados.

Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo de Oliveira Garcia, autor da pesquisa, foram selecionados dois isolados (um tipo de bioinseticida à base dos fungos escolhidos e que seria pulverizado sobre as áreas infestadas) com grande potencial no combate à praga. ‘Um dos compostos, batizado de Esalq 1300, já foi testado em campo e obteve um controle da praga tão bom quanto nos experimentos laboratoriais’, garante.

O outro isolado, Esalq 972, foi testado apenas em laboratório, mas também é bastante promissor. Ambos isolados foram obtidos a partir de fungos do gênero Verticillium lecanii, e fazem parte do banco de patógenos do laboratório de Patologia e Controle Microbiano de Insetos da Esalq.

O pesquisador alerta que a eficiência do controle está diretamente ligada ao rápido diagnóstico da infestação. ‘O segredo para controlar a praga é fazer um programa de inspeção muito criterioso’. Normalmente, a cochonilha só é detectada em um estágio avançado, quando as plantas estão recobertas por um fungo preto, a fumagina (Capnodium sp.), que se alimenta das secreções açucaradas produzidas pela Orthezia. ‘Depois que a praga já está com uma grande infestação é muito difícil realizar o controle.’

Garcia afirma que o controle por métodos alternativos, como este, está crescendo, e um dos motivos é justamente que os recursos químicos estão tornando-se ineficientes. ‘O método químico ainda funciona em algumas regiões, mas seria preciso fazer um grande número de aplicações, o que acarreta em problemas ambientais e no aumento da resistência da praga’.

O uso dos fungos entomopatogênicos apresenta vantagens justamente nestes pontos: ‘a utilização de microorganismos representa uma alternativa prática para os problemas de resistência e de contaminação do meio ambiente, tornando o agroecossistema muito mais sustentável’.

Praga genérica

Apesar de a Orthezia afetar principalmente laranjais, que por serem culturas permanentes e de larga escala estão mais suscetíveis a pragas, ela também ataca outros tipos de plantas. ‘Ela tem mais de 150 espécies hospedeiras. Pode atingir desde um grande pomar a um pequeno jardim’, explica ele.

Ainda não há previsão para os isolados serem produzidos comercialmente, mas uma outra parte do estudo já procura viabilizar a sua obtenção em escala industrial. Foram testados dois métodos para a produção dos fungos entomopatogênicos: o da bandeja, mais utilizado, e o método da caixa, pouco estudado.

Por enquanto. o primeiro deles se mostrou mais eficiente, porém o outro é extremamente promissor. ‘Vale ressaltar que o método da bandeja já teve seus problemas solucionados. Com tempo e estudo, o método da caixa pode ter resultados superiores, dependendo do isolado’, acredita Garcia.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br
V.C.