USP: Beleza tem grande importância na vida de universitários

Estudantes de classe média alta gastam mais em cuidados com a aparência e seguem padrões eleitos pela mídia

sex, 03/12/2004 - 20h23 | Do Portal do Governo

A beleza é altamente valorizada por universitários, principalmente entre os que pertencem a classes sociais mais abastadas. Essa foi uma das conclusões a que chegou a psicóloga Flávia Maria Campos em sua dissertação de mestrado defendida no Instituto de Psicologia (IP) da USP.

Flávia avaliou hábitos e crenças relativos à beleza em 38 estudantes – com números iguais de homens e mulheres – escolhidos aleatoriamente em uma universidade privada de Ribeirão Preto. ‘O modelo de beleza valorizado foi praticamente o mesmo, no qual todos ficam tentando se encaixar, sem aceitação de diferenças’, diz.

Para Flávia, esse quadro configura-se numa verdadeira ‘ditadura da beleza’, questão que ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas e, em muitas delas, causa elevado sofrimento psicológico. ‘A insatisfação com o corpo decorre da dificuldade de se encaixar nos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, sobretudo por intermédio da mídia’, relata Flávia.

A atuação dos veículos de comunicação na homogeneização da beleza brasileira é comprovada por um dado curioso da pesquisa: ao serem convidados a apontar um modelo estético ideal, os entrevistados, em sua grande maioria, citaram o nome de artistas constantemente exibidos pela televisão, jornais e revistas – Rodrigo Santoro e Reinaldo Gianechinni, para os homens, Daniela Cicarelli e Gisele Bündchen, para as mulheres.

Silhuetas

Um aspecto inovador do estudo é a escala de silhuetas. A pesquisadora elaborou quatro tipos, para homens e mulheres, que representavam corpos magro, normal, forte e com sobrepeso. Flávia pediu para que os universitários apontassem, primeiramente, a silhueta que possuem e, depois, a que gostariam de possuir.

‘A maioria dos estudantes identificou-se atualmente com a silhueta média (53%), seguida pela silhueta magra (26%). A silhueta média também foi a mais desejada (47%), sobretudo pelas mulheres, seguida pela silhueta musculosa (39%) – preferida pelos homens. Ninguém manifestou desejo pela silhueta com sobrepeso’, revela.

Apesar de mais da metade dos universitários classificar como média sua forma física, Flávia observou que 84% deles fazem constantemente dietas de emagrecimento. ‘A excessiva preocupação com a beleza é colocada pela sociedade como algo natural, mas não é. Ou podemos considerar como uma atitude normal uma pessoa passar fome para emagrecer cada vez mais e mais?’, questiona a pesquisadora.

Narcisismo

A pesquisa de Flávia também apontou, nos estudantes entrevistados, níveis de narcisismo (substantivo originado na história de Narciso, que, segundo a mitologia grega, viu sua própria imagem refletida num lago e, apaixonado, se jogou em suas águas). ‘As pessoas da classe A foram as que mais se preocuparam com a auto imagem. Conseqüentemente, também foram as que revelaram gastar mais dinheiro com cuidados com o corpo e a beleza, e mais horas de academia e exercícios físicos.’

A psicóloga reconhece que a grande discussão proporcionada por seu trabalho é a necessidade de se mudar o estigma social que dá mais valor à beleza do que ao próprio ser humano. Segundo Flávia, também se deve pensar em formas de combate à homogeneização da beleza, ainda mais num país como o Brasil, cuja população é formada por uma grande miscigenação de raças e condições sócio-econômicas completamente distintas. ‘Devemos valorizar todas as formas de beleza, e não ficar presos a um único padrão.’

Tadeu Breda – Agência USP