USP: Arte e Ciência se unem em favor da preservação

Artista produz xilogravuras que retratam psitacídeos, ameaçados de extinção, em seu habitat

seg, 02/08/2004 - 21h40 | Do Portal do Governo

A união do conhecimento científico e do trabalho artístico está se transformando numa importante ferramenta de conscientização para a preservação de psitacídeos (papagaios e araras) que correm risco de extinção no Brasil. Neste trabalho conjunto, o biólogo Luís Fábio Silveira, do Instituto de Biociências (IB) da USP, fornece o suporte científico à artista plástica Ângela Leite. O resultado pode ser visto em desenhos e xilogravuras que retratam as aves em seu habitat natural.

‘A idéia surgiu há três anos’, conta Silveira, que é professor do Departamento de Zoologia do IB. ‘A artista já retrata animais ameaçados de extinção há mais de 20 anos. Quando ela me procurou, buscou informações sobre os hábitos alimentares destas aves. Ela queria saber com exatidão quais eram os frutos, e de quais palmeiras, cada ave se alimentava’, diz o pesquisador.

A maioria destas informações Silveira consegue em campo e as repassa para Ângela. ‘Além de esteticamente belas, as obras revelam com exatidão científica o comportamento das aves’, elogia o professor. No conjunto de trabalhos ‘Pindorama, terra de papagaios’, a artista apresenta psitacídeos em diversas relações ecológicas com espécies de palmeiras. Até o momento, dez trabalhos já foram feitos e estão previstos outros trinta.

‘Pindorama na verdade significa terra dos papagaios’, diz Ângela, mas ‘essas plantas e aves estão muito unidas na natureza e desde o princípio da colonização deram uma imagem de exuberância, de colorido, calor e alegria ao Brasil’. Entre as espécies já retratadas, a artista destaca a ararinha leary, que se alimenta basicamente dos frutos da palmeira licuri; a arara azul grande, uma das poucas capazes de quebrar o coco da macaúba e ainda o buriti, palmeira usada para alimento, ninho e descanso da maioria dos psitacídeos.

Para produzir suas obras, a artista costuma fazer viagens ao campo, pesquisar sobre formas e costumes dos animais e plantas na bibliografia científica, fazer observações no jardim zoológico e também recorrer a especialistas. Já fez exposições no Jardim Botânico de São Paulo, no Horto Florestal de Campos do Jordão, na Pinacoteca Benedicto Calixto em Santos e em outros países, como Paraguai, Costa Rica, Dinamarca e Estados Unidos. Agora está organizando os trabalhos para uma nova exposição, possivelmente ainda em 2004.

Conscientização

No Brasil, que possui o maior número de aves do mundo, 156 delas correm riscos de extinção. Destas, 16 são da classe dos psitacídeos. ‘O caso da ararinha azul, por exemplo, é muito delicado. No Brasil existem apenas sete animais em cativeiro, no Zoológico de São Paulo. Cerca de 50 exemplares estão fora do país, espalhados pela Ásia, Europa e Oriente Médio, onde se reproduziram em criadouros’, conta. O pesquisador destaca que entre as principais causas para a extinção dos psitacídeos está a perda de seu habitat natural. ‘Temos problemas como a expansão de fronteiras agrícolas e construção de hidrelétricas, entre outros’, explica. Os papagaios sofrem principalmente com o tráfico.

Silveira destaca que já existe uma certa conscientização quanto à preservação. Ele destaca as iniciativas de cientistas e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). ‘A entidade implantou o comércio legalizado de papagaios, o que ajuda a preservá-los’, diz. A situação de ameaça para os psitacídeos é mais presente na região leste do Pará e na Mata Atlântica. ‘No Pará, a tiriba e a ararajuba são as mais ameaçadas.’

Segundo o pesquisador, as iniciativas de preservação devem enfatizar a criação e manutenção das unidades de conservação, como parques nacionais. Além disso, na opinião de Silveira, as leis para coibir o tráfico de animais devem ser mais rigorosas. ‘Há que se incentivar a pesquisa científica e a criação de cativeiros orientados pelo Ibama’, acredita Silveira. O professor integra um grupo de trabalho coordenado pelo Ibama que em 2002 documentou quais as espécies de animais brasileiros correm riscos de extinção.

Antonio Carlos Quinto e Lucas Telles – Agência USP