USP: Aparelho acelera cicatrização de úlceras nos pés de pacientes com hanseníase

Feridas de 7 a 30 anos cicatrizaram em 3 a 9 meses

seg, 12/12/2005 - 12h46 | Do Portal do Governo

Um aparelho de ultra-som pulsado e de baixa intensidade que era usado desde a década de 70 no tratamento de fraturas, e mais recentemente em um tipo de artrose, acaba de ter sua eficácia comprovada para o tratamento de úlceras (Mal Perfurante Plantar) nos pés dos pacientes de hanseníase. O método acelera o processo cicatricial, podendo curar em meses feridas que se instalaram há décadas.

Durante um ano, o fisioterapeuta Fábio Campanelli fez sessões de ultra-sonografia nos pés de seis pacientes portadores do Mal Perfurante Plantar, que se caracteriza por feridas de diversos tamanhos e graus de profundidade na planta dos pés. As lesões são decorrentes da perda total de sensibilidade nas extremidades do corpo, causada pelo alojamento do bacilo mycrobacterium leprae nas fibras de nervos periféricos.

Nos experimentos, realizados em Bebedouro (SP), Campanelli submeteu os pacientes a três sessões por semana, com duração de 20 a 40 minutos. O pesquisador conta que o número de aplicações não foi estabelecido previamente. ‘O tratamento foi mantido até a cicatrização total, que variou em cada caso’. As feridas tinham entre 7 e 30 , e levaram de 3 a 9 meses para cicatrizarem. Campanelli ressaltou que se preocupou em levar o tratamento até o fim, sendo que o procedimento mais usual é realizar os testes apenas até a comprovação da eficácia do método.

A pesquisa, que compõe o mestrado orientado pelo professor Affonso Luiz Ferreira, apresentado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), foi a vencedora do Prêmio Werner von Siemens de Inovação Tecnológica, na categoria Contribuição Social ou Inclusão Social, entregue no último dia 29 de novembro.

As sessões de tratamento

O ultra-som pulsado é um método não invasivo, pois a radiação é liberada por meio de pulsos, não de forma contínua. Por intermédio da concentração dessa energia na região afetada do tecido, se induz a nova formação vascular nas bordas da lesão, favorecendo o processo cicatricial. O mesmo poderia ser feitos nos pés de pessoas que desenvolveram úlceras em função de diabete mellitus, hipertensão arterial esquêmica e alcoolismo. O aparelho utilizado foi desenvolvido no Programa Interunidades de Bioengenharia da USP de São Carlos, pelo professor Luiz Duarte.

O fisioterapeuta diz que antes do início das sessões as úlceras foram fotografadas com câmera digital, e o processo se repetia a cada 10 dias, para avaliar a evolução da cicatrização. Esse acompanhamento foi feito com suporte de um software desenvolvido no Departamento de Engenharia Elétrica da EESC que possibilitava comparar a área das lesões. Foi possível até traçar gráficos com os resultados e avanços do tratamento.

Embora todos os pacientes submetidos às sessões tenham tido suas feridas curadas, Campanelli afirma que ‘se não se prevenirem fazendo higienização correta e usando calçados ortopédicos adequados para a redistribuição de cargas nas plantas dos pés, as lesões podem voltar’. O fisioterapeuta planeja estudar, em uma tese de doutorado, a combinação do uso do aparelho ultra-som pulsado de baixa intensidade com sapatos ortopédicos.

Renata Moraes, da Agência USP

M.J.