USP: Anticorpo detecta infecção pulmonar causada por fungos no sangue do paciente

AB 2-Beta também estimulou resposta imune à micose

seg, 22/08/2005 - 10h12 | Do Portal do Governo

A partir de uma proteína produzida pelo Paracoccidioides brasilensis, agente causador da paracoccidioidomicose, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) criaram o anticorpo antidiotipo AB 2-Beta, capaz de detectar a doença pelo sangue. A paracoccidioidomicose é caracterizada por uma infecção pulmonar por fungos e atinge populações rurais do Brasil e da América Latina.

De acordo com o professor Sandro Rogério de Almeida, da FCF, que coordenou a pesquisa, o AB 2-Beta foi testado no diagnóstico sorológico de pacientes com a doença. ‘O fungo libera a molécula GP-43, glicoproteina que foi utilizada para gerar o anticorpo antidiotipo AB 2’, explica. ‘O AB 2-Beta tem a capacidade de ‘imitar’ o antígeno original do fungo e pode substituí-lo no imunodiagnóstico da doença.’

De acordo com o pesquisador, ‘por meio do teste ELISA, amostras do AB-2 Beta são colocadas em placas com sangue dos pacientes ou a própria proteína, identificando a infecção.’

O imunodiagnóstico tradicional da doença é feito com a GP-43, ou com exoantigenos obtidos de amostras do Paracoccidioides brasilensis. ‘O método de obtenção do AB-2 é mais simples que a GP-43 purificada, e evita a manipulação direta do fungo que é arriscada, mas serão precisos novos testes para reduzir a reação cruzada ao anticorpo.’ ressalta Almeida. ‘A doença também é muito confundida com a tuberculose, por apresentar sintomas semelhantes.’

Imunoterapia

Em testes com camundongos na FCF, o AB 2-Beta estimulou a resposta imune à micose. ‘O AB-2 estimula as células a produzirem a citocina IFN-Gama, que controla a infecção’, destaca o professor. ‘Os primeiros resultados mostram que o anticorpo poderá ser usado em imunoterapia, mas vai ser preciso fazer novas experiências para avaliar seu papel protetor’.

O pesquisador alerta que a paracoccidioidomicose é comum em moradores de áreas rurais. ‘O fungo chega aos pulmões pelas vias respiratórias, provocando a infecção e comprometendo a função pulmonar’, descreve. ‘A doença pode ser fatal ou se manter por vários anos de forma crônica, com risco de se alojar em outros órgãos do corpo.’

O Laboratório de Micologia da FCF estuda a imunologia de infecções fúngicas em seres humanos, principalmente as difundidas no Brasil e em países latino-americanos. ‘As micoses profundas, que afetam órgãos internos, são as mais graves’, alerta. ‘Entretanto, estas doenças costumam ser ignoradas, mas são uma hipótese a ser considerada em diagnósticos, especialmente em casos de suspeita de tuberculose.’

Júlio Bernardes