USP: Animais ajudam na educação de crianças portadoras de deficiência mental

Crianças da Apae de Pirassununga são levadas a setores de criação de animais da Faculdade de Zootecnia da USP

qui, 15/01/2004 - 10h07 | Do Portal do Governo

Atividades com animais de produção, como vacas e cabras, estimulam crianças deficientes mentais no aprendizado escolar, sem o prejuízo da produtividade. Mas devem ser utilizados métodos para isso, já desenvolvidos na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. A linha de pesquisa surgiu de um projeto de integração da Faculdade com a cidade de Pirassununga, onde o campus está localizado.

Há três anos, a Faculdade leva crianças da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) para os diferentes setores de criação do campus, como a ordenha, a criação de cabras, peixes. ‘É desse modo que a criança pode se deparar com práticas diferentes do seu cotidiano, e ainda ganhar algumas habilitações. Essas atividades as estimulam a aprender’, explica o professor Marcelo Machado de Oliveira Ribeiro, coordenador do projeto.

Os alunos trabalham com situações-problema envolvendo disciplinas escolares, de acordo com as aptidões de cada criança. ‘Medindo, pesando e contando os bichos, elas praticam Matemática. Depois precisam fazer um relatório com as informações e fichas dos animais, treinando o Português’, conta o professor. ‘Já encher e esvaziar um aquário com o sifão dá chances para aprender elementos de Física.’

Uma vez por semana, as crianças vão ao campus em rodízio de aproximadamente 20 alunos, com um roteiro pré-determinado e monitorado, durante toda a manhã. Mas os assuntos também são trabalhados na Apae, nos outros dias da semana. ‘Inclusive aquelas que participam desse ‘circuito’ precisam dar uma aula sobre o que fizeram para os seus colegas na Apae, o que os obriga a estudar’, completa o professor. Contando os três anos de projeto, 55 crianças já participaram.

Metas

De acordo com o zootecnista, o que ocorre por enquanto é uma pré-profissionalização, com tentativas de desenvolver algumas habilitações, como na alimentação, higiene e controle. ‘Uma meta agora é partir para a profissionalização das crianças em 2004, dando certificados, já que a entrada no mercado de trabalho é muito difícil para elas.’

A outra meta é elaborar kits pedagógicos para o uso de professores em classe, como jogos, brinquedos e outros materiais de apoio baseados no tema dos animais de produção. O professor acredita que escolas do interior de São Paulo, que têm mais proximidade com o assunto, também poderiam utilizar a idéia de usar animais na aprendizagem de disciplinas escolares com eficácia. Também diz que seria possível estabelecer parcerias com propriedades particulares, já que não há stress para os animais nem custos para as fazendas.

O projeto hoje envolve uma equipe de 13 professores, além de funcionários e alunos. De acordo com Ribeiro, o trabalho teve verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por dois anos, como um projeto na área de políticas públicas.

‘Também teve um aluno que fez uma iniciação científica baseada nas fotografias. Trata-se de uma das atividades: em sala, nós mostramos fotos em que as crianças aparecem lidando com os animais, o que fortalece sua auto-estima e confiança.’ Segundo Ribeiro, um dos principais problemas delas é a sensação de incapacidade. Ainda de acordo com ele, o próprio ato de acariciar o animal já dá benefícios para as crianças. ‘Hoje, porém, já tomamos mais cuidado, pois elas acabavam indo muito eufóricas e assustavam os bichos.’

O professor tem a firme convicção de que as atividades podem ser úteis no aprendizado escolar de qualquer criança, mas para as deficientes mentais acabam sendo ainda mais importantes. As crianças da Apae sofrem de rebaixamento intelectual, algumas com paralisia cerebral e outras com Síndrome de Down, por exemplo.

Por Maurício Kanno
, da Agência USP de Notícias

C.C.