USP: Amaciar calçados novos pode trazer benefícios para atletas de corrida

Estudo é da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo

seg, 27/06/2005 - 11h28 | Do Portal do Governo

Amaciar calçados novos antes de utilizá-los talvez não seja uma prática que apenas aumenta o conforto nos pés de quem os usa, principalmente para praticantes de corrida. Fazer isso pode também contribuir ligeiramente para o desempenho inicial dos tênis, nos aspectos da absorção de impactos e da distribuição do peso.

‘Não é quando o calçado está novo que ele apresenta os melhores resultados, mas após um certo período de uso’, explica o educador físico Roberto Bianco, que em julho defenderá na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP o estudo de mestrado Caracterização das respostas dinâmicas da corrida com calçados esportivos em diferentes estados de uso.

Em sua pesquisa, Bianco analisou três modelos de tênis de corrida: dois específicos para competição e um para treinamento, finalidades definidas pelas empresas fabricantes. Após 100 quilômetros de uso, houve uma pequena redução do impacto e um significativo aumento de 5,6 centímetros quadrados (cm2) na área de contato entre o pé do usuário e o calçado, pela média das medidas. ‘Com isso, o peso do atleta fica distribuído em uma superfície maior, melhorando a interação entre o sujeito e o equipamento’.

Com relação à absorção do impacto, Bianco faz a ressalva de que não é só o calçado que influencia neste quesito, mas também o próprio atleta. ‘Provavelmente o corpo vai se adaptando e ajustando no sentido de manter um padrão de movimento’. Isso significa que o desgaste do tênis, e uma eventual perda na capacidade de minimizar os impactos, acabaria sendo compensado pelo próprio corpo.

Além disso, foi verificado que a diferença entre os modelos de competição e o de treino tendem a diminuir, contrariando as expectativas. Os fabricantes alegam que os calçados de corrida precisam ser mais leves e utilizam menos material. Com isso o desgaste seria mais rápido, e propriedades como a absorção de impacto estariam comprometidas em menos tempo que nos modelos para treinamento.

Durabilidade

A recomendação genericamente repetida, principalmente por vendedores, é que os tênis de competição devem ser utilizados poucas vezes. No caso de maratonas, a crença popular é que o equipamento serviria apenas para uma ou duas corridas, devendo ser descartado posteriormente. ‘Talvez os fabricantes façam um produto com maior durabilidade do que eles supõem’, acredita o pesquisador.

Entretanto, os resultados obtidos vão num sentido oposto. Mesmo após 300 quilômetros, ou quase sete vezes o percurso de uma maratona, os calçados continuavam apropriados à prática do atletismo. A conclusão é categórica: ‘Ele permanece adequado à sua finalidade por mais tempo do que se pensava. O desgaste nestes 300 quilômetros não aumentou o impacto’. Bianco acrescenta ainda que provavelmente as empresas trabalhem com uma certa margem de segurança no intuito de garantir um produto de qualidade.

Apesar disso, obviamente que o estudo faz referência apenas aos modelos analisados e toda generalização deve ser cercada de cuidados. ‘A maneira específica que cada calçado é fabricado pode influir nos resultados.’ As marcas utilizadas na pesquisa, que foi orientada pelo professor Júlio Cerca Serrão, não podem ser divulgadas por impedimento contratual.

André Benevides, Da Agência USP

M.J.