USP: Agrotóxicos ilegais continuam sendo usados em frutas e hortaliças

Monitoramento foi feito durante o ano de 2003 na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo

qua, 04/08/2004 - 20h00 | Do Portal do Governo

O consumidor deve ficar atento quando visitar as feiras ou supermercados para suas compras rotineiras de frutas e hortaliças. Segundo o pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, prof. Gilberto Casadei Baptista, certos vegetais podem oferecer risco pela presença de resíduos agrotóxicos ilegais, encontrados durante pesquisa feita pelo Instituto Biológico ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

O monitoramento foi feito durante o ano de 2003 na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) e classificou os produtos analisados em quatro categorias: sem detecção de resíduos (ND), detecção de resíduos inferior ao limite estabelecido pela lei (Enquanto as três primeiras classificações não apresentaram dados preocupantes, a categoria que diz respeito a presença de resíduos ilegais revelou altas porcentagens de amostras com agrotóxicos não autorizados. Alface, repolho e vagem são os campeões entre as hortaliças; nas frutas geram preocupação a melancia, o melão e o pêssego. O morango, que ficou de fora da pesquisa em 2003, apresentava altos índices de contaminação em 2001 e por isso, segundo Casadei, “não deve ser esquecido”.

A questão gira em torno do consumo de químicos considerados desnecessários para a produção da fruta ou da hortaliça. “O ideal seria evitar, se possível, o consumo destes produtos, ou escolher pela compra dos chamados orgânicos, mais caros, porém sem agrotóxicos”, aconselha professor Gilberto Casadei.

Outro fator que deve ser levado em consideração é o processamento do vegetal antes de ser ingerido.Como os resíduos se concentram nas cascas das frutas, por exemplo, a retirada desta antes do consumo praticamente elimina o risco de ingestão de agrotóxicos.
Cozinhar os legumes acima de 100° é outra forma de eliminar os resíduos. Abaixo desta temperatura, segundo o pesquisador da Esalq, apenas 30% destes químicos são eliminados.

Apesar de importante para a limpeza dos vegetais, a lavagem é pouco efetiva contra os agrotóxicos. Isso porque o tempo decorrente entre a aplicação do produto químico no vegetal e o seu consumo é o suficiente para que haja uma aderência deste na película cerosa das frutas e hortaliças. “Como a maioria dos produtos não são hidrofílicos, isto é, não se dissolvem em água, a lavagem só é eficiente pouquíssimo tempo depois da aplicação”, explica professor Gilberto Casadei.

Educação

Para o pesquisador da Esalq estes números refletem um problema de educação do agricultor brasileiro. “Ninguém usa esses produtos por diversão, jogando dinheiro fora. Muitas vezes eles nem conhecem a legislação ou lêem as bulas dos tóxicos que aplicarão nas plantações”, explica.

Culturas como a da vagem, por exemplo, apresentam números altos quanto à presença de resíduos ilegais porque, muitas vezes, não existem agrotóxicos específicos para elas. Como possuem uma produção relativamente baixa, os laboratórios não se interessam em desenvolver esses produtos . “Isso, no entanto, não se aplica a casos como o da alface, verdura de grande consumo e alta presença de resíduos ilegais”, expõe Gilberto, “ a saída é orientar esse agricultor sobre a legislação e o uso adequado desses produtos”.

Eduardo Piagge / USP Online