USP: Adoçantes dietéticos podem ter quantidades nocivas de metais

A pesquisa buscou simplificar o método para o controle de qualidade

sex, 14/05/2004 - 20h40 | Do Portal do Governo

O crescimento do consumo de adoçantes dietéticos ocorrido no Brasil nos últimos anos motivou pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP a aprimorar os métodos de determinação de metais nestes produtos, para agilizar o controle de qualidade na fabricação.

A metodologia desenvolvida sugere a utilização de uma técnica já comum no mercado – denominada ICP OES. A principal inovação acontece no tratamento químico das amostras antes de serem analisadas. Os pesquisadores substituíram a digestão ácida dos componentes orgânicos dos adoçantes pela simples diluição em água e obtiveram resultados semelhantes ao método tradicional, em um tempo total seis vezes menor.

O estudo avaliou a quantidade de metais presentes em diversas marcas de adoçantes, obtidas aleatoriamente no comércio e identificou, em algumas delas, excessos de alguns destes elementos que podem ser prejudiciais à saúde.

Ao todo, foram analisadas 26 amostras, de 13 marcas diferentes, sendo que 9 eram líquidas e 17 em pó solúvel. Os resultados apontaram que 6 marcas ultrapassaram o limite permitido por lei para a quantidade de arsênio e 7 apresentaram excesso de cromo. As amostras de adoçante em pó apresentaram concentrações metálicas mais elevadas que as do produto líquido.

‘O arsênio é um elemento que, dependendo da forma química em que se encontra, se acumula no organismo e pode causar comprometimento de funções dos rins, do fígado e na formação de tecidos’, explica Darilena Porfírio, química responsável pela pesquisa desenvolvida no Laboratório de Espectometria de Emissão e Absorção Atômica (LEEAA) do IQ.

Já o cromo, de acordo com a pesquisadora, pode funcionar como nutriente ou contaminante. ‘É preciso identificar as formas em que estes elementos aparecem para descobrir se entram nos produtos a partir de suas fórmulas, dos equipamentos ou das embalagens, para então corrigir o problema’, explica.

Duas amostras de adoçantes líquidos apresentaram quantidades irregulares de níquel, que pode ser associado às ligas de aço que compõem os fornos e misturadores. Altas concentrações de ferro e magnésio também foram encontradas nos adoçantes em pó. Segundo Darilena, as quantidades presentes desses dois metais em cinco envelopes do produto representam respectivamente 14% e 17,8% das necessidades diárias de uma pessoa adulta.

Nenhuma das marcas ultrapassou o limite permitido para a somatória de metais tóxicos, normalmente encontrados em baixas concentrações nos alimentos. Os adoçantes devem ter o mínimo de componentes metabolizáveis pelo organismo, mesmo que as quantidades estejam dentro da lei.

Dados mercadológicos obtidos por Darilena Porfírio junto à Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Dietéticos (ABIAD) indicam que os produtos da linha diet/light movimentaram US$1 bilhão no Brasil só em 1998, soma que deve chegar a US$7 bilhões em 2005. Os adoçantes representam cerca de 20% deste mercado.

Informações ao consumidor

Outros testes realizados indicaram que algumas marcas sofrem cristalização em meios levemente ácidos, comparáveis a um suco de laranja, apesar de todas as empresas informarem que seus produtos são estáveis quanto à acidez. Os adoçantes à base de aspartame sofrem degradação em temperaturas entre 40ºC e 60ºC. O adoçante perde o sabor e estimula o usuário a consumir mais.

Os produtos em pó têm maior quantidade de metais porque em suas fórmulas há açúcares que servem de diluentes para os edulcorantes – substâncias responsáveis pelo sabor, como a sacarina, o aspartame, o ciclamato, a stévia e a sucralose. ‘As recomendações feitas nas embalagens quanto ao consumo máximo diário se referem à absorção total dos componentes e devem ser seguidas pelos consumidores.’

Lucas Oliveira Telles – Agência USP