USP: 75 milhões de metros quadrados de inestimável patrimônio ambiental

Parques, praças, gramados e áreas naturais preservadas fazem outra riqueza dos seis campi da Universidade na capital e no interior

seg, 04/10/2004 - 18h50 | Do Portal do Governo

Falar na maior universidade pública do País, a Universidade de São Paulo, costuma remeter ao ensino de qualidade, à pesquisa de ponta, à formação de mestres e doutores, além de uma série de atividades culturais e de extensão oferecidas à sociedade. Mas a USP abriga mais do que os seus 100 mil estudantes, professores e funcionários; mais do que os 5 milhões de títulos cuidadosamente organizados nas dezenas de bibliotecas; e mais do que as incontáveis obras de arte integradas aos seus quatro museus. A universidade abriga também 75 milhões de metros quadrados em todo o Estado de São Paulo, a maior parte destinada a parques, praças, gramados e áreas naturais preservadas.

Além do câmpus de São Paulo, há áreas verdes espalhadas por outros cinco campi no interior – Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto, São Carlos e Bauru – e bases em municípios como Valinhos, Cananéia, Santos, São Sebastião, Salesópolis e Ubatuba e em outras regiões onde são desenvolvidas atividades de ensino e de pesquisa distintas, como astronomia e sismologia, em Valinhos, e biologia e oceanografia, em Ubatuba. Mais do que ao patrimônio universitário, essas áreas estão incorporadas a um patrimônio ambiental que não é apenas da instituição, mas de todos.

Na verdade, esses câmpus buscam alternativas que primam pelo “respeito ao ambiente e convivência harmoniosa em relação ao seu uso e ocupação”, explica Juliana Mendes Prata, arquiteta da Comissão de Patrimônio Cultural da universidade, que participou da pesquisa para o livro Meio Ambiente: patrimônio cultural da USP, lançado no ano passado numa parceria entre a Edusp e a Imprensa Oficial. Esta é uma postura diferente da adotada no projeto de construção da Cidade Universitária, na então fazenda do Butantan. “Não dá para cobrar dos projetos da década de 30 a mesma concepção que temos hoje”, diz Juliana.

Capital

Na cidade de São Paulo, a USP não é formada apenas por prédios suntuosos, como os da Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco, ou da Faculdade de Medicina, na Avenida Dr. Arnaldo. No câmpus do Butantã, a Praça do Relógio é um verdadeiro cartão postal. Reformada em 1997, seus 176 mil metros quadrados (equivalentes a 18 quarteirões urbanos) têm significado especial: neles foram plantadas espécies características de seis ecossistemas vegetais do Estado de São Paulo, transformando a praça num verdadeiro espaço didático.

Esse câmpus abrange também uma reserva florestal com cobertura remanescente da antiga fazenda Butantan. Seus 102 mil metros quadrados abrigam mais de 100 espécies nativas da mata atlântica e uma nascente que forma um pequeno lago.

A água também é um elemento de preservação na reserva biológica do Parque das Fontes do Ipiranga, na zona sul da capital. As nascentes do Riacho do Ipiranga, consideradas a última fonte de água não poluída da área, estão espalhadas por mais de 1,4 milhão de metros quadrados, onde cerca de 1,2 milhão ainda são cobertos por vegetação primitiva da mata atlântica.

A região, onde está o Parque de Ciência e Tecnologia, é um refúgio de espécies da fauna que ainda resta. É comum se deparar com macacos saltando nos galhos das árvores, já habituados com a movimentação do local. Há pouco tempo, ali era a sede do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, e os funcionários, professores e alunos passeavam por suas alamedas e lagos, em convívio com os animais. Não raro encontravam cobras sob os armários, nas salas. Em seguida eram transferidas para o Instituto Butantan.

Câmpus de Piracicaba

A área do câmpus Luiz de Queiroz, onde se localiza a Escola Superior de Agricultura, está distribuída em quatro municípios – Piracicaba, Anhembi, Anhumas e Itatinga – e totaliza 37,5 milhões de metros quadrados. Com trechos cortados pelos rios Piracicaba, Piracicamirim e o Ribeirão Tinga, a área tem 200 mil metros quadrados de lagos e lagoas, várias nascentes e duas represas. Uma área de 600 mil metros quadrados preserva matas ciliares e mais 120 hectares estão sendo recuperados. A fauna é muito rica, com destaque para as capivaras, os quatis, os sagüis e diferentes espécies de aves.

A Estação Experimental de Anhembi, destinada ao desenvolvimento de pesquisas, tem um banco de conservação de material genético florestal, que é considerado o maior acervo de eucaliptos do mundo, num único local, com o espécies de diferentes procedências. Na sede, em Piracicaba, uma área de 15 hectares foi tombada pelo Patrimônio Histórico. Preserva um estilo inglês de paisagismo, formado por gramados, canteiros e outras variedades florestais. Um dos principais pontos de lazer da cidade, o local é o mais freqüentado entre os cinco parques existentes. Segundo o prefeito do câmpus, Marcos Vinícius Folegatti, chega a receber 2 mil pessoas nos finais de semana.

Pirassununga

A Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos fica numa fazenda em Pirassununga e tem 23 milhões de metros quadrados, dos quais 5 milhões são de mata de cerrado remanescente da vegetação nativa e uma pequena parcela de mata atlântica. Grande parte dessa área, destinada à pesquisa e ao ensino, é coberta por lâminas d’água, com 14 lagoas, a maioria mantida com águas de nascentes próprias. A água consumida no câmpus vem de duas reservas próprias. A fauna da região também é muito diversificada. Veados-campeiros, cachorros-do-mato, lobos-guarás, capivaras, siriemas e diferentes animais silvestres são vistos freqüentemente circulando pela fazenda.

Dois câmpus em São Carlos

Se o câmpus 1 de São Carlos é nitidamente urbano, inserido na cidade, o 2 – que vai abrigar, entre outros, o curso de Engenharia Aeronáutica – está localizado num trecho de várzeas de 920 mil metros quadrados. A área tem regiões alagadiças que, somadas ao espaço de matas ciliares, representam cerca de 25% da área total do novo câmpus. O planejamento sustentável dessa área está baseado no conceito de “bacia-escola”, que prevê a conservação da água nas nascentes.

De acordo com o professor Waldir Mantovani, do Instituto de Biociências, que participou do grupo de estudos do câmpus 2 e da USP Leste, essa “área de várzea é raríssima, com espécies nativas em grande quantidade”. É, ainda, segundo ele, uma região de pouso de pássaros de migração. O projeto foi planejado para causar o menor impacto ambiental possível. “Havia a necessidade de construir uma ponte e o trecho deveria ser aterrado. Optamos por uma ponte com vários vãos, o que repôs todo o substrato retirado para que o fluxo não fosse interrompido. Com certeza, sairá mais caro, mas é ambientalmente correto”, acrescenta Mantovani.

A USP em Ribeirão Preto

O câmpus de Ribeirão Preto também surgiu numa antiga fazenda ocupada pela Faculdade de Medicina, em 1952, e abriga seis diferentes faculdades. Tombada pelo Condephaat em 1994, a área de quase 6 milhões de metros quadrados é coberta por gramados, jardins e variadas espécies de árvores não remanescentes. Nela a prefeitura do câmpus desenvolve, desde 1998, o projeto Floresta USP, que compreende uma área de recomposição florestal, um banco genético e um viveiro de mudas, para recuperar um mínimo de 20% de área verde arborizada. O reflorestamento permanente repovoou o lugar com pica-paus, sabiás, anus, tuins, papagaios, periquitos e beija-flores, entre outros. Na área são encontrados, ainda, importantes recursos hídricos, como nascentes, córrego e açude, além de fonte de captação de água subterrânea.

No litoral

Áreas no litoral norte do Estado de São Paulo também fazem parte do patrimônio ambiental da USP. Na região de Cananéia e Ubatuba estão as bases do Instituto Oceanográfico; e em São Sebastião fica a sede do Centro de Biologia Marinha, numa área de proteção ambiental. Utilizadas principalmente para pesquisas e cursos de extensão, estão abertas ao público para visitas monitoradas. No litoral sul, o destaque são as ruínas do engenho São Jorge dos Erasmos, em São Vicente, o primeiro construído na América do Sul para o beneficiamento da cana-de-açúcar. A área é utilizada para pesquisa histórica e arqueológica e para programas de educação ambiental.

USP Leste

A mais nova área da universidade no câmpus da capital é a USP Leste, que está sendo construída na região mais populosa da cidade. O projeto segue uma concepção moderna de edificação que interfere minimamente no ambiente. O novo espaço está sendo construído próximo à várzea do Rio Tietê e prevê a recuperação de áreas degradadas, originalmente recebidas pela instituição, e agora utilizadas no ensino, na pesquisa e na extensão, associadas com o lazer educativo da comunidade. O professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, coordenador do Espaço Físico da USP, explica: “O projeto, planejado com base na preservação ambiental de toda a área, prevê áreas de convívio, com praças e bosques arborizados com espécies nativas da região”.

Ele ressalta a utilização de programas como o Projeto de Uso Racional de Água (Pura), o Projeto de Uso Racional de Energia (Pure), que obtiveram excelentes resultados técnicos e financeiros na universidade. “A USP considerou-os como de importante aplicação na nova área. A isso devem ser acrescentados os mecanismos de recuperação de águas pluviais e águas utilizadas que, após o tratamento, serão reutilizadas na USP Leste.” Outro projeto que será instalado no novo espaço é o USP Recicla, para reaproveitamento de materiais por meio de reciclagem. Massola acredita que terá ampla aplicação e grande importância para a comunidade carente da região.

Aprendendo a cuidar

O professor Waldir Mantovani, coordenador do curso de Gestão Ambiental da USP Leste, ressalta que a universidade tem importante papel a desempenhar em relação ao patrimônio ambiental como um todo. “Não é um papel passivo, mas de formação de pessoas, tanto no pensar como no agir. Não adianta falar para fazer uma coisa quando não faço”. Para ele, a questão é estabelecer uma nova relação ética numa sociedade injusta. “Precisamos de normas para tudo, assim como precisamos de uma nova ética para o meio ambiente”.

Livro apresenta patrimônio ambiental da USP para crianças

Conhecer o patrimônio ambiental da Universidade de São Paulo, descobrir as possibilidades que a natureza oferece, encontrar áreas verdes com seus bichos, lagoas , montanhas e campos. Tudo isso faz parte do livro O Que a Gente Vê Quando a Gente Olha. Editado pela Imprensa Oficial e Edusp, com a coordenação do Centro de Preservação Cultural da USP, a obra fala de proteção ambiental de forma interativa, permitindo que a criança possa aprender e se divertir. Traz adesivos de peixes para serem colados nas páginas da lagoa, saquinho de sementes para serem plantadas e muitos exercícios interessantes: descobrir a sombra certa do besouro, caça palavras com os nomes das matas, além de dicas para fazer reciclagem de papel, jogo dos sete erros com fotos de laboratório da universidade e até ligar os pontos para revelar uma bela fazenda de café no câmpus Ribeirão Preto.

Ana Lúcia Duarte Lanna, coordenadora do CPC/USP, revela que a idéia dessa publicação surgiu quando os especialistas e pesquisadores perceberam que as áreas verdes e a natureza preservada também tinham significado para a população. ‘As pessoas usam o espaço e não notam que ele pertence a uma universidade, como é o caso do Parque da Esalq, em Piracicaba, ou as lagoas em Pirassununga. E a universidade quer criar vínculos com a comunidade. A partir daí, pensamos num livro para reforçar essa idéia com as crianças e, além disso, contribuir para a formação delas no tema do meio ambiente’, explica Ana Lanna.

SERVIÇO

O livro custa R$ 25,00 e está disponível no site da Imprensa Oficial: www.imprensaoficial.com.br/lojavirtual

Da Assessoria de Imprensa da USP/Márcia Furtado Avanza/Da Agência da Imprensa Oficial/L.S.