USP 70 anos: Esalq avança em pesquisa de técnicas de Agricultura de Precisão

Tratores equipados com computadores e GPS proporcionam maior economia de insumos

qui, 18/12/2003 - 8h57 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Antonio Carlos Quinto

A aplicação de técnicas de Agricultura de Precisão que podem proporcionar maior economia, principalmente na utilização de insumos, já é uma realidade no Brasil. No Departamento de Engenharia Rural da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, há cerca de cinco anos, vêm sendo desenvolvidas tecnologias que possibilitam o uso de máquinas equipadas com computadores de bordo e sistemas de localização por satélite gerenciados por aparelhos de GPS (Global Position Sistem).

Iniciado em 1998, o Projeto AP (Agricultura de Precisão) já mostra resultados práticos, principalmente na aplicação de fertilizantes em culturas de cana-de-açucar. ‘Na verdade, o conceito de Agricultura de Precisão é relativamente simples’, explica o professor José Paulo Molin, que coordena o projeto na Esalq. Segundo ele, a maioria das lavouras não são uniformes, como muitos consideram. ‘Existem o que chamamos de ‘manchas’, locais em que as características do solo são diferenciadas’, descreve.

Em lavouras de cana-de-açucar, segundo Molin, experiências mostram que é possível se fazer uma economia de insumos da ordem de 10% a 20%, principalmente em fertilizantes. ‘Há pontos em que o tipo de solo é diferente, necessitando de quantidades diferentes de nutrientes’, explica o professor. As técnicas de AP recomendam, neste caso, que um técnico elabore mapas com diversos pontos de amostras de solo, devidamente analisadas. Uma máquina equipada com um computador procede a leitura destes mapas e, guiada por aparelhos de GPS, determina as quantidades exatas de fertilizantes a serem administradas nos diferentes locais.

As técnicas de AP podem ser aplicadas em tratamentos fitossanitários, para controle de pragas e doenças, e na própria semeadura, determinando inclusive espaçamentos de sementes. O professor recomenda, por exemplo, que numa área de mil hectares sejam colhidas amostras de solo a cada dois a ou cinco hectares. ‘Assim, teremos entre 200, 300 e até 500 amostras de solo’, calcula. ‘Por meio de técnicas geoestatísticas, poderemos ter valores estimados de outras áreas, onde não foi possível obtermos exemplares de solos’, explica Molin.

Projeto Piloto

Algumas técnicas de AP, segundo Molin, estão sendo aplicadas numa área experimental de 23 hectares de uma propriedade particular de cerca de 1.500 hectares, localizada no município na cidade de Campos Novos Paulista, no Estado de São Paulo. ‘Lá, já estamos expandindo técnicas para toda a fazenda. Mas ainda não temos resultados exatos’, conta o professor. Segundo ele, numa usina de cana-de-açucar de Guaíra, também de São Paulo, a economia conseguida no uso de calcário no primeiro ano possibilitou o pagamento de todo o pacote de aplicação das técnicas de AP. ‘Foi possível pagar desde a obtenção de mapas instalação de laboratórios e maquinários’, afirma.

No Brasil, Molin calcula que a AP já esteja sendo aplicada em cerca de 150 mil hectares plantados, incluindo principalmente grãos e cana. ‘Sabemos de três usinas canavieiras, duas de São Paulo e uma de Goiás, que estão aplicando técnicas de AP’, informa. De acordo com o professor, quase toda a tecnologia para implantação é nacional. Os kits que equipam os sistemas de bordo das máquinas agrícolas de aplicação de fertilizantes ainda são do exterior mas, de acordo com o professor, já há um acompanhamento pela Esalq de fabricantes nacionais que estão investindo nesta tecnologia. ‘Hoje, este kit pode significar um investimento de cerca de R$ 30 mil. Com tecnologia nacional, não sairia por mais de R$ 15 mil’, garante.

Segundo Molin, estas técnicas podem ajudar não somente os grandes produtores. ‘Não são tecnologias excludentes. Elas podem auxiliar e muito os pequenos e médios produtores’, afirma.

O grupo de pesquisas da Esalq conta com o apoio do Instituto Agronômico e da Fundação ABC, do Paraná. Segundo Molin, já foram feitas algumas parcerias no setor industrial e, em 2003, alguns especialistas foram treinados na Esalq. Em maio de 2004, na Esalq, acontecerá o Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão, onde poderão ser vistos os avanços mais recentes nesta área.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen
V.C.