USP 70 Anos: Ambulatório do HC busca identificar fator hereditário em casos de câncer

Objetivo é saber quais as chances de desenvolver o tratamento de cura

sex, 19/12/2003 - 9h40 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Valéria Dias

Um grande número de casos de câncer em uma mesma família muitas vezes traz angústia para seus membros, que desconfiam da hereditariedade da doença. Desde o último mês de novembro, o Ambulatório de Oncologia Clínica do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP colocou à disposição destas pessoas o Ambulatório de Aconselhamento Genético. Pacientes com histórico de câncer na família passam por uma série de entrevistas e testes a fim de descobrir se a doença é, nesses casos, hereditária, e quais as chances de desenvolvê-la no futuro.

A primeira etapa consiste em levantar o histórico clínico do paciente e de várias gerações de sua família. É feito um heredograma (diagrama com o histórico familiar de doenças) de, no mínimo, três gerações com todas as ocorrências de câncer, se possível com documentação médica que descreva o tipo de tumor.

A equipe do Ambulatório analisa os dados e, dependendo do padrão de ocorrência da doença na família, encaminha o paciente para um teste genético, feito por meio de análise sangüínea. A pesquisa é específica para um determinado tipo de gene. Se for encontrada alguma mutação, os médicos sabem quais os riscos de a pessoa desenvolver o câncer. ‘Se alterações genéticas não forem encontradas, o paciente deverá ser acompanhado, porque pode ter uma mutação não conhecida’, afirma a médica Maria Del Pilar Estevez Diz, supervisora do ambulatório.

Quando os médicos detectam mutações genéticas que conferem maior suscetibilidade à doença, a equipe discute com o paciente sobre as possíveis alternativas de tratamento. Para o câncer de mama há três abordagens. Os exames preventivos (ultra-sonografia e mamografia) deverão ser feitos mais cedo, a partir dos 25 ou 30 anos. A segunda opção é o uso de medicamentos quimio-preventivos. A última e mais radical alternativa é a mastectomia preventiva (retirada total ou parcial da mama).

Hereditariedade

Segundo a doutora Pilar, a hereditariedade acontece quando é detectada a presença de genes indicadores de uma maior suscetibilidade à doença. No caso do câncer de mama, por exemplo, a médica conta que os genes BRCA 1 e BRCA 2 indicam uma chance que varia de 50% a 80% de o paciente desenvolver o câncer ao longo da vida. ‘No entanto, a presença do gene, por si só, não significa que o paciente irá com certeza desenvolver um câncer’, explica.

Entre os principais fatores associados ao desenvolvimento do câncer de mama, a médica cita uma grande exposição ao estrógeno – menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia -, ganho excessivo de peso após a menopausa e a alta prevalência da doença na população. ‘É por este motivo que em uma mesma família podem existir vários casos sem que a doença seja hereditária.’

Quando existe o fator hereditário, conta a médica, mulheres com mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 têm câncer de mama antes da maioria da população. ‘O que fazemos no ambulatório é individualizar o rastreamento genético para um paciente que precisa de tratamento especial.’

Dados recentes publicados no Estudo de mortalidade de mulheres de 10 a 49 anos no Brasil – que analisou 3.265 declarações de óbito de mulheres em idade fértil, em todas as capitais brasileiras durante o primeiro semestre de 2002 – indicam que o câncer de mama ocupa o quarto lugar, com 5,8% das mortes. O estudo foi realizado a pedido do Ministério da Saúde e conduzido pelos professores Ruy Laurenti, Maria Helena Prado de Mello Jorge e Sabina Lea Davidson Gotlieb, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Por enquanto, o Ambulatório de Oncologia Clínica realiza somente o tratamento de pacientes com histórico familiar de câncer de mama encaminhados por médicos do próprio Hospital das Clínicas. Mas a idéia original é estender o tratamento para outros tipos de câncer como ovários, colon e reto.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/

V.C.