Urbanismo: Pesquisa da FAU mostra as causas da degradação do rio Tietê

Arquiteto aponta falta de planejamento na ocupação das margens do rio

qua, 16/04/2003 - 10h18 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Pedro Buava

Uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP investigou as causas da degradação ambiental e paisagística do rio Tietê e suas margens, no município de São Paulo. Na dissertação de mestrado ‘O desenho da paisagem à beira-rio: as metamorfoses da várzea do rio Tietê na cidade de São Paulo’, o arquiteto Iraúna Bonilha aborda também aspectos gerais da estruturação urbana das várzeas paulistanas.

Inicialmente, Bonilha fez um apanhado geral da história do urbanismo e da arquitetura da paisagem, elencando alguns exemplos significativos de projetos à beira-rio em grandes cidades européias e americanas, principalmente aqueles que exerceram influência sobre as propostas urbanísticas para a várzea do Tietê.

As obras de retificação e canalização do Tietê começaram já no final do século XIX, mas só foram realmente tocadas a partir do final da década de 1930. As marginais surgiram em meados dos anos 60, quando o rio já estava morto, obstruindo de vez o acesso público às margens.

Segundo o arquiteto, vários projetos urbanísticos foram feitos para a várzea do Tietê, mas a maior parte não deixou marcas concretas na paisagem. ‘O resultado é um acúmulo de obras e intervenções, não necessariamente fiéis a um projeto, embora o Plano de Avenidas de Prestes Maia (1930) tenha definido o papel das margens do Tietê, assim como das margens do Pinheiros, como eixos de circulação rodoviária’.

‘As três maiores várzeas urbanizadas da cidade, do Tietê, do Pinheiros e do Tamanduateí, formam uma espécie de ‘esqueleto’, com seus corredores de circulação rodoviária e ferroviária’, descreve Iraúna. ‘O uso industrial, hoje em processo de substituição por usos terciários, foi por muito tempo predominante nas várzeas do Tietê e do Tamanduateí. Na várzea do Pinheiros, o uso residencial de alto padrão foi pioneiro’, conta o arquiteto.

Limpeza

O rio Tietê vai ser limpo e as inundações nas marginais vão acabar? Segundo Bonilha, o problema mais difícil de ser combatido não é a poluição por esgotos: ‘a ocupação irregular nas encostas da Serra da Cantareira expõe o solo à ação desagregadora das chuvas e faz com que o material seja carregado e se deposite no leito do rio. Isso diminui a capacidade de escoamento do canal’, explica.

Segundo o arquiteto, as enchentes são processos naturais, mas as inundações são conseqüências de processos combinados de ocupação do solo, a começar pelas planícies de várzea, locais que serviam como reservatórios naturais das cheias. ‘Se o Estado investir na ampliação da rede de coleta e tratamento de esgotos, é possível eliminar até 50% da poluição que afeta o rio’, recomenda. Bonilha lembra ainda que a questão do assoreamento é mais difícil de ser combatida. ‘Não depende apenas de manutenção e dragagem periódica, mas de um controle profundo e eficaz sobre o processo de produção da cidade, medida que nunca foi tomada’, avalia.

Para ele, o maior erro do urbanismo paulistano foi a definição das avenidas marginais, que impossibilitou o uso das margens fluviais como espaços livres públicos. ‘Uma solução, já indicada pelo projeto vencedor do último concurso público de reurbanização das Marginais (1998/99), é a possibilidade de implantação de projetos em áreas-piloto ao longo dessas vias, aproveitando vazios remanescentes e áreas ferroviárias e industriais’, recomenda. ‘Alguns projetos podem conseguir articular essa possibilidade de renovação urbana ao longo das ferrovias com a renovação paisagistica das áreas marginais’.
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V.C.