Unicamp: Projeto desenvolve sistema para produção local de energia elétrica

Destinado a regiões distantes ou setores estratégicos, como hospitais, o projeto utiliza células a combustível movidas a gás natural

qui, 11/11/2004 - 12h35 | Do Portal do Governo

Imagine poder levar energia elétrica a locais distantes, sem a necessidade de estender redes de transmissão e/ou distribuição até esses pontos. Ou diversificar o suprimento de energia em espaços estratégicos para a sociedade, como hospitais e determinados tipos de empresas. Projeto testado no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp busca atender a situações como essas. Nele são experimentadas novas tecnologias de geração distribuída de energia elétrica.

A geração distribuída refere-se à energia obtida próxima ao local de consumo, sem necessidade da rede geral de distribuição. No caso do HC da Unicamp, a obtenção se dará por meio da utilização de uma célula a combustível movida a gás natural. Trata-se de uma espécie de bateria, que converte um combustível – geralmente hidrogênio – em energia elétrica, a partir de reações eletroquímicas. O resultado é a produção de energia elétrica e água.

Antes da geração de eletricidade, um dispositivo retira o hidrogênio do gás natural para ser utilizado pela célula. Esse dispositivo, chamado de reformador de gás natural, é fruto de projeto desenvolvido pela Unicamp, Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec) – centro de pesquisa sem vínculo financeiro com empresas privadas ou órgãos públicos, que obtém recursos com a venda de projetos de pesquisa e desenvolvimento.

Projeto Inédito – Sistema parecido ao testado no HC da Unicamp já opera no Lactec, em Curitiba, mas foi adquirido no exterior. No caso do projeto da Unicamp, o reformador foi totalmente desenvolvido na universidade e é inédito no Brasil, embora as células ainda sejam compradas no exterior. Futuramente, existe a possibilidade de serem obtidas também no País, por meio de empresas que se têm dedicado a desenvolver essa tecnologia. Quanto aos reformadores, protótipos deverão ser produzidos dentro de dois anos e sistemas comerciais, em cerca de cinco anos.

“Os sistemas com células a combustível que utilizam gás natural apresentam-se como importantes alternativas para diversificação de fontes de suprimento, atendimento de localidades remotas e clientes especiais (que necessitam de sistemas seguros e estáveis de energia)”, afirma o professor Ennio Peres da Silva, que coordena os trabalhos pelo lado da Unicamp, por meio do Laboratório de Hidrogênio (LH2) e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe). Segundo ele, esses sistemas podem, também, reduzir impactos ambientais e significar, em alguns anos, a forma mais econômica de geração distribuída de energia elétrica.

Testes incluem comunidades no Amazonas e no Pantanal

Iniciado em 2002, o projeto de geração distribuída de energia a partir de células a combustível movida a gás natural deve ir até 2007. O custo, até o momento, foi de aproximadamente R$ 600 mil, dos quais cerca de R$ 150 mil se referem à célula a combustível. O projeto todo está estimado em R$ 4 milhões.

O sistema de testes é de pequeno porte em relação ao que é consumido de energia elétrica no HC. Portanto, significará pouco em termos de economia para o hospital, segundo o professor Ennio Peres da Silva. “Mas, futuramente, sistemas de maior porte poderão ser instalados, e aí será possível se verificar economia efetiva”, explica.

O professor acredita que o HC representa o melhor local da universidade para se testar a tecnologia, porque dispõe de um sub-sistema próprio de fornecimento de eletricidade, com vários cabos de conexão (barramentos), distribuídos de forma adequada – cada um para uma área específica de destinação. Esses cabos de conexão não interferem nas áreas essenciais do hospital, evitando que sejam prejudicadas se ocorrer algum desligamento acidental. “Além disso, como os sistemas escolhidos são de baixo impacto ambiental, nada melhor do que tê-los em um hospital, onde sempre é desejável reduzir emissões e barulhos”.

Em meados de 2005, o Nipe instalará outra unidade na comunidade Arixi, no município de Anamã (AM), para abastecer 400 pessoas que hoje dispõem de energia elétrica, proveniente de um gerador a diesel, apenas quatro horas por dia. Outra máquina, que funcionará com etanol no lugar do gás natural, está prevista para ser levada ao Pantanal.

Célula a combustível funciona como eletrólise reversa

Eletrólise reversa ou ao contrário é como se denomina, também, o processo para converter um combustível (normalmente hidrogênio) em energia elétrica, a partir de reações eletroquímicas do combustível com o oxigênio do ar. Trata-se de uma reação inversa àquela feita para decompor a água em seus constituintes (hidrogênio e oxigênio), muitas vezes realizada nas aulas de Ciências. Na eletrólise, a água contendo uma base dissolvida (soda cáustica, por exemplo) é decomposta pelo uso da corrente elétrica, fornecida por uma pilha e dois fios mergulhados na solução.

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial

(LRK)