Em seu laboratório no Instituto de Química (IQ), da Unicamp, o principal problema enfrentado pelo professor Lauro Tatsuo Kubota não é de caráter científico, mas cultural: como convencer as pessoas de que um produto muito barato também pode ser eficiente? Ele realiza pesquisas com biossensores, dispositivos capazes de medir em tempo real a presença de substâncias no sangue, na urina, nos medicamentos, nos alimentos e na água.
‘Um biossensor para detectar o nível de glicose no sangue tem custo irrisório, mas ainda precisamos de marketing para divulgar e demonstrar suas qualidades, provando que o resultado é tão confiável quanto o obtido por equipamentos de porte dos grandes laboratórios de análises clínicas’, conta o professor. O aparelho pode ser produzido em vários tamanhos e formatos, como o de um termômetro, ou miniaturizado, para ser implantado no corpo humano.
Supondo a forma de um termômetro, ele tem numa ponta um componente biológico, capaz de reconhecer, por exemplo, um pesticida presente na água, quando imerso no rio. Da interação entre o componente e o pesticida, ocorre uma reação e, no corpo do ‘termômetro’ (o transdutor), é possível medir a energia dessa reação. Na outra extremidade, um fio conduz a energia mensurável até o instrumento que medirá a concentração do pesticida na água.
Escala comercial
Tradicionalmente a medição exige a adição de reagentes para se produzir uma cor ou fluorescência que permita a leitura. Com o biossensor, basta colocá-lo numa amostra e fazer a medição. “Isso reduz custos, abrevia o tempo para análise e evita resíduos poluentes. O processo é seletivo e identifica, dentre várias substâncias presentes na amostra, somente a desejada.’
É preciso desenvolver um tipo de biossensor para cada substância que se queira identificar, e é nessa linha que prosseguem os estudos. ‘O que se pesquisa é qual componente biológico, como colocar e em que quantidade, conforme a utilidade’, explica. Segundo o professor, após desenvolvido é possível produzi-lo facilmente em escala comercial.
‘Existe forte resistência porque grandes laboratórios e empresas fabricantes não querem substituir seus equipamentos sofisticados por dispositivos simples e baratos. Os pacientes, por sua vez, preferem acreditar na análise feita em aparelhos cheios de luzes e botões, mesmo que o biossensor apresente resultados melhores.’
Aplicações
Um biossensor bastante utilizado é o que mede o nível de glicose, o glicosímetro portátil, vendido em farmácias. Ele permite o monitoramento diário da taxa de açúcar de diabéticos sem a necessidade de espera pelos resultados nos laboratórios. ‘O próprio paciente coleta a gota de sangue, coloca-a sobre um biossensor descartável e mede o nível de glicose.’
O cientista relaciona outros usos dessa tecnologia. A praticidade e a agilidade dos biossensores permitem até que sejam utilizados durante cirurgias, caso o médico necessite de exame de sangue imediato para se orientar quanto aos procedimentos. O equipamento servirá, também, para que profissionais da saúde apressem os diagnósticos em seus consultórios. O Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp firmou parceria com o laboratório do IQ para fazer análises de substâncias encontradas no sangue com os biossensores.
Substituto para o bafômetro
O IQ vem realizando trabalho visando à utilização desses aparelhos para avaliar a performance de atletas. A idéia é monitorar, principalmente, o nível de substâncias que combatem os radicais livres no sangue. ‘Quando há aumento excessivo desse nível, sabe-se que o atleta está sendo forçado e corre o risco de lesões.”
O biossensor também acusaria casos de doping em tempo real. O laboratório pesquisou a eficácia do dispositivo para medir o nível de álcool no sangue. ‘Ele é muito mais sensível que o bafômetro, que além de impreciso só consegue detectar o álcool numa quantidade razoável’, afirma o pesquisador.
Da Assessoria de Imprensa da Unicamp
Da Agência Imprensa Oficial
(AM)