Unicamp: O mundo do trabalho virado do avesso

Professor da universidade faz um estudo sobre o desemprego no país

seg, 01/03/2004 - 12h59 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp
Por Álvaro Kassab

O ineditismo é a linha comum de dois projetos de pesquisa, ambos coordenados por professores da Unicamp, sobre o mundo do trabalho no país. Os estudos desenredam as mazelas de um mercado que usurpou milhões de postos de trabalho a uma velocidade que apanhou os especialistas no contrapé. Baixada a poeira e constatado o óbvio – o desemprego é um problema planetário -, as teorias começaram a pulular. É corrente, entretanto, que raros projetos elegeram os trabalhadores como protagonistas. Não é o caso dos dois projetos formulados na Unicamp.

Para onde vai o mundo do trabalho?, pesquisa coordenada pelo professor Ricardo Antunes, do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), esquadrinha há três anos diferentes categorias que tiveram, sobretudo ao longo dos anos 90, o seu poder de fogo reduzido por conta do que se convencionou chamar de reestruturação produtiva.

Os primeiros resultados da pesquisa, que acabam de ser publicados com o sugestivo nome de O Avesso do Trabalho (Revista Idéia do IFCH, 484 pgs), mensuram o tamanho do estrago. Pesquisadores da Unicamp e de outras instituições foram a canaviais, entraram em boléias de caminhão, visitaram indústrias (metalúrgica e de calçados, entre outras), percorreram agências bancárias, vasculhando um universo cujos contornos – recentes, na maioria – desenham um quadro ‘que reflete as marcas do trabalho, caracterizadas pela superexploração e também pelas incertezas em relação ao futuro’, de acordo com Antunes.

Já o projeto do professor Claudio Salvadori Dedecca, do Instituto de Economia detém-se a um fenômeno pouco conhecido e estudado pela academia: o trabalho feito no âmbito domiciliar, invariavelmente desprezado pelas estatísticas oficiais. A pesquisa, que rendeu o ensaio Tempo, Trabalho e Gênero, está em fase inicial. Algumas das constatações, porém, desnudam uma realidade em que a mulher, empregada ou não, figura como a maior vítima de um mercado que, na visão de Dedecca, privilegia fatores econômicos em detrimento daquilo que ele chama de reprodução social.

Um batente de 62 horas semanais

Quando fez a livre-docência, em 1997, o professor Claudio Salvadori Dedecca, do Instituto de Economia, sentiu-se incomodado com um aspecto de sua tese que ficou em aberto: o fato de o trabalho ser visto, pela maioria dos economistas, como uma atividade meramente econômica. Dedecca lembra que, apesar dessa visão começar a ser bombardeada pelo movimento feminista a partir dos anos 70, eram raros os levantamentos que levavam em conta o conjunto de trabalhos realizados no âmbito domiciliar.

Uma prosaica pergunta introduzida na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/IBGE) mudou as coisas. No questionário, o entrevistado é indagado se realiza trabalhos domésticos e qual é o tempo despendido nos afazeres. Os números, tornados públicos em 2001, se constituíram na ferramenta que faltava ao docente. ‘Sabia-se que o número de horas trabalhadas é alto, mas era desconhecido o tempo gasto nas atividades realizadas no domicílio, necessário para a reprodução social ‘.

A íntegra desta matéria pode ser lida no site www.unicamp.br
V.C.