Unicamp: Metodologia vai mapear arranjos produtivos locais

Mais de 20 instituições serão estudadas

qui, 29/07/2004 - 10h41 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp


Por Manuel Alves Filho

Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, coordenada pelo professor Wilson Suzigan, está desenvolvendo uma metodologia que permite mapear estatisticamente e caracterizar estruturalmente os chamados sistemas ou arranjos produtivos locais, mais conhecidos pela sigla APLs. Os APLs podem ser entendidos como modelos de organização territorial da produção ou, de uma maneira ainda mais simplificada, como a concentração de diversas empresas ligadas a uma atividade produtiva numa cidade ou região.

Um exemplo bastante conhecido é o setor calçadista de Franca. O objetivo do trabalho, que tem caráter essencialmente acadêmico, é gerar um instrumento que auxilie na orientação de políticas públicas voltadas ao segmento.

Gestores públicos vão ter base de dados

De acordo com o professor Suzigan, a metodologia, ainda em fase de desenvolvimento, consiste na elaboração de indicadores de concentração geográfica, segundo as classes de atividade econômica e de especialização local por microregiões. Para isso, os especialistas valem-se de cálculos matemáticos e de dados extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), preparada pelo Ministério do Trabalho. Há, ainda, o trabalho de campo, com visitas às empresas e instituições que integram os APLs.

Ao final do trabalho, estima o docente do IE, surgirá uma base de dados que fornecerá aos gestores públicos uma espécie de radiografia dos sistemas e arranjos locais existentes no país, possibilitando assim a adoção de ações coordenadas para o setor. O propósito, explica, é evitar iniciativas dispersas, o que reduz o desperdício de tempo e dinheiro e torna as políticas públicas mais consistentes.

Suzigan lembra que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) deverá lançar, possivelmente em agosto, um programa de incentivo aos APLs, medida prevista dentro da política industrial formulada pelo atual governo. Mais de 20 instituições e órgãos estarão envolvidos nesse esforço. “Se os gestores públicos não contarem com um instrumento que facilite a coordenação das diversas ações que serão executadas, haverá o risco de o programa não atingir o seu objetivo, em razão da desarticulação”, adverte o coordenador do trabalho, que conta com o apoio financeiro do CNPq. Segundo ele, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já demonstraram interesse em conhecer e possivelmente aplicar a metodologia.

A equipe comandada pelo professor Suzigan já visitou cerca de 20 APLs, espalhados por oito estados brasileiros. Foram considerados, para efeito do estudo, arranjos ou sistemas produtivos de diversos setores, segundo o professor do IE. Ele destaca que esse tipo de modelo de organização da produção tem alcançado grande sucesso, salvo algumas exceções. Ao se aglutinarem num determinado espaço geográfico, as empresas ligadas a uma mesma atividade estabelecem condições extremamente favoráveis de operação. A proximidade física dos parceiros e fornecedores facilita, por exemplo, o fluxo dos insumos, bem como a disseminação de novos conhecimentos.

Além disso, acrescenta o professor Suzigan, é muito comum as empresas se unirem na forma de consórcios ou cooperativas, para organizar centrais de compras de matérias-primas, medida que ajuda a reduzir os custos de maneira significativa. Essa interação permite também a promoção de cursos de capacitação técnica para os funcionários, a criação de consórcio de exportação e até mesmo a construção de centros tecnológicos de uso coletivo. Um exemplo desta última ação vem de Votuporanga, cidade localizada na faixa noroeste do Estado de São Paulo. O município concentra um grande número de fábricas de móveis. Entre os anos de 1999 e 2001, as empresas do setor se uniram e pleitearam junto aos órgãos governamentais recursos para a construção de um centro tecnológico.

A unidade, que custou cerca de R$ 3 milhões, foi erguida e atualmente oferece cursos de formação profissional para mais de 400 jovens. Graças à iniciativa, as fábricas de móveis de Votuporanga são as que mais detêm, no Brasil, certificados de qualidade. O professor Suzigan ressalta que os APLs não trazem benefícios apenas aos atores ligados à produção. Também ajudam a alavancar os indicadores econômicos e sociais de uma cidade ou região. Ao constituir toda uma cadeia produtiva, que congrega fabricantes, fornecedores de insumos, prestadores de serviços etc, esses sistemas ou arranjos geram emprego e, conseqüentemente, renda. Adicionalmente, atraem instituições voltadas ao ensino profissionalizante, o que causa impacto positivo na área da educação.

Por último, mas não menos importante, os APLs ajudam a atenuar problemas sociais. Nesses sistemas locais de produção, afirma o docente do IE, costuma haver mais solidariedade, associativismo e ações conjuntas por parte de empresas e sindicatos. Um caso que o docente do IE costuma citar como exemplo desse ganho social é um estudo divulgado pela imprensa recentemente, que estabelecia o ranking dos municípios mais violentos do Estado de São Paulo. “Das quatro cidades menos violentas, três abrigam sistemas ou arranjos produtivos locais”, diz Suzigan.

Mas nem tudo é flor nesse cenário. Por dependerem de uma única atividade, os APLs estão sujeitos a percalços, sobretudo quando uma crise atinge o setor de maneira pontual. Foi o que ocorreu em passado recente com as indústrias têxteis de Americana, na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Em virtude da concorrência dos produtos asiáticos, entre outros fatores, o setor enfrentou graves problemas. Fábricas faliram e outras foram incorporadas por grupos maiores. Só sobreviveram aquelas que tiveram capacidade para se modernizar e estabelecer padrões eficientes de competitividade.

Da Assessoria de Imprensa da Unicamp

V.C.