Unicamp: Funcionárias avós entram em ação no campus

Centro de Convivência Infantil da universidade aumenta o número de vagas para netos

qui, 06/05/2004 - 11h06 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp


Por Maria Alice da Cruz

Para muitas famílias, a gravidez é motivo de alegria. Para outras, porém, a notícia gera um misto de felicidade e preocupação, pois nem sempre a mãe biológica tem condições de ordem física, emocional ou psicológica para criar um filho. As razões são diversas e muito peculiares e, em grande parte dos casos, a guarda da criança é assumida por uma avó.

Essa realidade é vivida também pelo Sistema Educativo da Unicamp, que sente aumentar o número de vagas para netos. A criança é recebida mediante a concessão da guarda pela Justiça, de acordo com a diretora do Centro de Convivência Infantil (Ceci) da instituição, Lucila Eliana Moreira Sandoval. “Uma vez que a avó tem a guarda da criança, passa a ter os mesmos diretos de uma mãe funcionária para utilizar o sistema educativo”, afirma. Em muitos casos, revela Lucila, a funcionária-avó se vê com uma criança sob sua responsabilidade da noite para o dia, e a concessão de vaga tem de ser avaliada com urgência. “A funcionária avó procura vaga numa situação de emergência.”

Na hora certa

Para a avó-mãe Angela Maria Teixeira, do Hospital das Clínicas da Unicamp, o nascimento da neta Ana Luisa Teixeira Viana, de 3 anos, aconteceu em boa hora, um ano depois do desquite. “Veio na hora certa, pois não tive tempo de sofrer com a separação. Deus sabe fazer as coisas”, comemora Angela, que, após 23 anos, viu-se novamente no papel de mãe.

Ao se dar conta das condições precárias de sua filha, Angela não teve dúvida, requisitou a guarda de Ana Luisa, atualmente matriculada no maternal 2 do Ceci. “Só tenho a agradecer, pois aqui eu sei que ela é bem-cuidada. Sinto isso na reação dela, quando chegamos pela manhã e ela já entra brincando com os colegas e as ‘tias’ Simone e Edna”, diz com serenidade, no parque da escola.

Em muitos casos, é preciso adiar alguns planos anos e render-se às inovações. Depois de 17 anos sem cuidar de um bebê, Sandra Aparecida de Almeida Ramos, funcionária da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural da Unicamp, tornou-se mãe novamente ao assumir a guarda da neta Gabriela Fernanda Ramos da Silva, há sete anos. Hoje, já mais atualizada, ela dedica-se também à criação do neto Gabriel Henrique de Almeida Ramos, de 2 anos. Sandra assumiu os filhos de suas filhas e, para isso, sem lamentar, aos 46 anos, teve de adiar alguns planos, como freqüentar um curso universitário. “Quando a Gabriela nasceu, minha filha foi embora, e eu não sabia trocar uma fralda descartável”, relembra.

Apesar dos contratempos, Sandra nunca teve problema de aceitação. A alegria de ter nos braços o neto é perceptível ao dar seu depoimento e nas constantes visitas ao maternal do Ceci, no horário de almoço, momento em que as mães podem estar com seus filhos. Gabriela ingressou na Emei da Unicamp aos 4 anos de idade, atualmente é aluna da primeira série da EEEF Físico “Sérgio Porto”, que funciona na Unicamp. “Uma das melhores coisas que a Unicamp fez foi abrir vagas para as avós-mães. Muitas mulheres que passam por isso não têm onde deixar as crianças para trabalhar”, reflete Sandra.

De acordo com informações prestadas pela estatística Márcia Milena Pivato Serra, pesquisadora no Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, o número de crianças não-criadas pela genitora teve um aumento de 1999 a 2002. Dados mais recentes do Pnad, consultados por Márcia, mostram um número de 3.513.052 menores sem a presença da mãe biológica. Este número equivale a 7,4% da população infantil brasileira. Em 1999, eram 3,3 milhões, o equivalente a 7,1%.

As mazelas deixadas pelo rompimento do laço entre filho e mãe podem ser amenizadas com terapias. A psiquiatra Maria José Franklin Moreira, que durante muitos anos se reuniu com pais usuários do Ceci, afirma que é mais fácil a criança elaborar a perda, do pai ou da mãe, do que a rejeição e o abandono. “É mais difícil ajudar em casos de abandono”.

Doenças mentais, falta de afeto, mágoa por não ter amor do pai da criança estão entre as várias causas relatadas pela psiquiatra. “Às vezes, a mãe não pode dar afeto. Do ponto de vista psíquico, é ignorância julgar as atitudes das pessoas. Os motivos são vários. O ser humano faz o que pode, por mais terrível que isso pareça”, explica.

Uma das iniciativas, na opinião de Maria José, é ajudar a avó a aceitar a nova situação e fazê-la compreender que aquele ser humano que está sob sua guarda não tem culpa do que aconteceu. “É preciso ajudar os avós a olhar as crianças como seres humanjos em desenvolvimento a quem se pode direcionar recursos para serem adultos independentes. E, mais tarde, podem até ajudar os avós”, conclui.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br
V.C.