Unicamp: Estudo traz análise dos alimentos mais consumidos no Brasil

Pesquisadores da universidade desenvolvem projeto pioneiro na América Latina com a análise dos 198 produtos

qui, 07/10/2004 - 13h15 | Do Portal do Governo

Conhecer, em detalhes, a composição dos alimentos é essencial para os profissionais envolvidos em segurança alimentar, seja para a elaboração de uma dieta ou o planejamento das refeições de uma creche, por exemplo. E um dos problemas enfrentados nessa área era o fato de as tabelas disponíveis para consulta não serem feitas com base em testes realizados exclusivamente no País. Com a conclusão da primeira versão da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (batizada de projeto Taco), ficou mais fácil conhecer os produtos que chegam à nossa mesa.

Para a sua criação foram coletados e analisados os 198 alimentos mais consumidos pela população brasileira, em todo o território nacional. Leite, iogurtes, biscoitos, café, cereais, macarrão, farinha, enlatados diversos, arroz, feijão, carnes bovinas e de frango, frutas, verduras, legumes, sal, açúcar e pães fizeram parte da lista pesquisada.

O projeto foi desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com o Ministério da Saúde e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Coordenado pela professora Délia Rodriguez Amaya, da Faculdade de Engenharia de Alimentos, é pioneiro na América Latina para constituição de um banco de dados de nutrientes, baseados em análises laboratoriais de amostras representativas do Brasil, já que as informações de tabelas de composição são de países desenvolvidos ou cópias de amostras não representativas. Segundo a professora, é fundamental que cada país tenha sua própria relação de composição dos alimentos, com suas especificidades.

Valor nutricional

Por meio das tabelas, autoridades da saúde pública podem estabelecer metas nutricionais e guias alimentares que levem a uma dieta mais saudável. Ao mesmo tempo fornecem subsídios aos pesquisadores de estudos epidemiológicos que relacionam o controle alimentar com os riscos de doenças ou a profissionais que necessitem dessas informações para fins clínicos. Esses dados podem orientar a agricultura e as indústrias de alimentos no desenvolvimento de novos produtos e apoiar políticas de proteção ao meio ambiente e da biodiversidade.

O uso de tabelas de outros países pode levar a graves erros na compreensão do valor nutricional da alimentação e dos rótulos alimentares, nas prescrições de dietas, pois com qualquer variação nos processos industriais ou nas matérias-primas, não se pode garantir que se está consumindo as quantidades informadas, adverte a pesquisadora.

Ampliando a pesquisa

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos, o engenheiro agrônomo Dag Mendonça Lima, muitos fatores interferem na composição nutricional de um simples prato de arroz com feijão. ‘As condições edáficas (referentes ao solo), climáticas e de luminosidade, por exemplo, além da variedade escolhida, podem mudar a constituição do produto’, explica. Valores para a composição de um determinado alimento podem variar dependendo do país ou da região em que for cultivado.

A partir das informações geradas para a montagem da primeira tabela, os pesquisadores começaram a comparar os valores do Brasil com os de outros países. Em todos os casos, o método procurou obter alimentos de várias partes do território nacional. Os produtos industrializados foram obtidos em supermercados de Manaus, Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Campinas, Curitiba, Porto Alegre e Cuiabá. As amostras foram recolhidas das principais marcas comerciais em supermercados, hipermercados e estabelecimentos responsáveis por 85% de alimentos no País. Duas unidades de cada marca e produto foram tomadas em cada local de coleta.

Populares

De acordo com o pesquisador, a versão publicada deve ser considerada apenas a primeira, por se tratar de um trabalho com necessidade permanente de atualização. ‘Já temos financiamento aprovado para a inclusão de 270 novos produtos. Na próxima fase, vamos analisar, inclusive, preparações populares como a feijoada, a peixada com coco e a moqueca’, adianta a pesquisadora.

Coordenado pelo núcleo da Unicamp desde 1996, o estudo foi concebido para ser elaborado em fases, levando-se em consideração as necessidades metodológicas e a variedade de alimentos brasileiros.

Foram realizados workshops com especialistas nacionais e do exterior, elaboração de plano de amostragem, identificação das marcas comerciais mais consumidas que seriam analisadas, aquisição dos alimentos e a realização das análises após estudos entre 20 instituições do País para se definir aquelas com capacidade técnica que iriam, efetivamente, produzir os dados para a composição da tabela.

Os avanços nas análises, o melhoramento genético de vegetais e animais, as mudanças de hábito da população e os constantes lançamentos de produtos no mercado fazem com que a organização de um banco de dados seja um processo dinâmico e contínuo. Por isso, a tabela na primeira versão deve ser ampliada em número de alimentos e de nutrientes, e atualizada com conhecimentos mais recentes.

SERVIÇO:
A tabela pode ser consultada, na íntegra, no site do Projeto Taco: www.unicamp.br/nepa/taco/home.php?ativo=home

Da Assessoria de Imprensa da Unicamp e Agência Fapesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)