Unicamp: Estudo inédito relaciona maturidade sexual com nível econômico

Pesquisa mostra que a primeira menstruação da menina de classe social alta ocorre antes do que a de menor poder aquisitivo

qua, 21/05/2003 - 10h22 | Do Portal do Governo

Estudo inédito da Unicamp relaciona a evolução da estatura e da maturidade sexual com aspectos socioeconômicos. Sete mil estudantes de escolas públicas e particulares de Campinas, com idade entre sete e 18 anos, serão analisados.

Os pesquisadores constataram que a primeira menstruação das meninas, pertencentes à classe social mais elevada, ocorre antes do que a das garotas de nível socioeconômico mediano – 11,4 anos ante 12,3 anos, em média.

O coordenador da pesquisa e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Antônio de Azevedo Barros Filho, explica que os fatores que concorrem para acelerar a maturidade sexual das chamadas crianças ricas estão relacionados ao bom estado nutricional, às condições sanitárias adequadas e à ausência de doenças que comprometem o desenvolvimento. “Esse fenômeno não é uma exclusividade brasileira. Ele é verificado em várias partes do mundo.”

Tese polêmica

Na pesquisa, o coordenador contesta uma teoria consagrada, segundo a qual a primeira menstruação é determinada pelo nível de gordura do corpo. “Esse trabalho, ao contrário, relaciona a ocorrência à massa magra, composta pelos músculos, vísceras e esqueleto. Trata-se de uma tese que deve gerar alguma polêmica. Queremos demonstrar que a gordura é importante, mas não é fundamental para a ocorrência do fenômeno.”

Intitulada Composição corporal de escolares: dimorfismo sexual e diferenciação social, o trabalho financiado pela Fapesp representa um avanço em relação às informações disponíveis no Brasil, restritas ao peso e à altura dos jovens. Os especialistas, além de checarem as duas medidas, estão avaliando a dobra da pele e a área muscular dos braços e das costas para aferir o nível de gordura corporal.

“Queremos saber, por exemplo, se as crianças obesas ricas apresentam semelhanças com as obesas pobres. A pesquisa pode também ajudar a ajustar os dados internacionais que são utilizados para aferir o crescimento e o desenvolvimento da nossa população.”

Planejamento de políticas públicas

O principal padrão de referência aplicado no País foi concebido nos Estados Unidos pelo National Center for Health Statistics (NCHS). As diferenças entre as populações dos dois países não são consideradas, o que torna provável a necessidade de sua adequação às características brasileiras. “A expectativa é que, no futuro, essa massa de dados sirva para auxiliar no planejamento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento dos nossos jovens.”

Ainda como parte da linha de pesquisa, os cientistas querem entender a influência que a composição corporal tem no dimorfismo sexual da população analisada. Sabe-se que a mulher tem mais massa gorda do que o homem. Entretanto, entre indivíduos pobres as diferenças diminuem, em virtude da carência nutricional.

“A redução da massa gorda faz com que as mulheres apresentem características corporais semelhantes às dos homens. Queremos verificar como isso anda”, explica Azevedo Barros.

Da Agência Imprensa Oficial e Assessoria de Imprensa da Unicamp