Unesp: Pesquisa pode auxiliar na prevenção do câncer gástrico

Material foi coletado durante exames por endoscopia e cirurgia em 113 pacientes no Hospital de Base de São José do Rio Preto

qui, 17/04/2003 - 11h00 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial


Uma pesquisa realizada no Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Unesp de São José do Rio Preto acaba de identificar alterações genéticas, não detectadas em testes de rotina, associadas ao câncer do estômago em pacientes com uma simples gastrite crônica ou uma úlcera gástrica.

‘A detecção de alterações genéticas em lesões gástricas benignas com potencial pré-canceroso poderá auxiliar no diagnóstico precoce do câncer gástrico e evitar o aparecimento da doença’, diz a coordenadora do estudo, a bióloga Ana Elizabete Silva.

Para a pesquisadora, quando há suspeita de câncer, os médicos, no Brasil, solicitam biópsias, exame histológico e algumas vezes exame imunoistoquímico que detectam algumas proteínas que podem indicar o aumento da proliferação celular. Nesses casos, o patologista dá o diagnóstico, mas não está visualizando a totalidade do material genético.

‘O diagnóstico é baseado na morfologia das células. Se elas já têm alguma alteração em nível molecular ou citogenético, o médico não terá como detectar’, explica. ‘Isto faz com que, muitas vezes, o diagnóstico de um tecido alterado seja dado como normal. Mas na verdade ele pode ter células em processo de se tornar cancerosas. É ai que entra a nossa contribuição.’

Alterações genéticas

O material foi coletado durante exames por endoscopia e cirurgia em 113 pacientes com úlcera gástrica, gastrite crônica, metaplasia e adenocarcinoma atendidos no Hospital de Base de São José do Rio Preto. A pesquisadora recomenda que os pacientes que apresentam alterações genéticas em lesões gástricas benignas com potencial pré-canceroso devem passar por um acompanhamento clínico mais freqüente para identificar precocemente a evolução da doença.

O surgimento do câncer gástrico está relacionado a fatores genéticos a partir de uma gastrite crônica, úlcera gástrica e metaplasia e/ou de fatores ambientais, como consumo elevado de sal, alimentos defumados, enlatados, álcool, tabagismo, cirurgia gástrica anterior, infecção pela bactéria Helicobacter pylori e histórico de lesões benignas ou pré-cancerosas.

‘Essa bactéria, por exemplo, coloniza o estômago em aproximadamente 50% da população mundial e é o principal agente etiológico em mais de 95% das gastrites crônicas, responsável pelo aumento do risco de câncer gástrico em até nove vezes’, diz. ‘O nosso interesse é que o Brasil também passe a realizar testes genéticos de rotina para o diagnóstico mais precoce do câncer e outros tipos de doença na população.’

O motivo para os testes de diagnóstico genético contra o câncer gástrico ainda não estarem disponíveis no Brasil é o alto custo para os padrões nacionais, pois são utilizados marcadores fluorescentes e equipamentos importados. Por enquanto, testes genéticos desse tipo são feitos no País apenas para o diagnóstico de leucemia, em laboratórios particulares e instituições de pesquisa. A técnica é relativamente simples. “O que encarece é o material utilizado’, finaliza Ana Elizabete.

(AM)