Unesp: Pesquisa da Faculdade de Ciências Agronômicas prevê riscos de praga em laranjais

Sistema desenvolvido vai combater doença que provoca perda de até 80% dos laranjais

seg, 16/02/2004 - 9h41 | Do Portal do Governo

A citricultura ganhou nova ferramenta para combater a podridão floral dos citros, doença que provoca a queda dos frutos e a perda de até 80% da produção, quando atinge os pomares de laranja. Os agricultores podem usar um sistema de controle que calcula as condições favoráveis ao aparecimento da doença, como chuva, estágio de desenvolvimento da florada, e indica a época certa para pulverização com fungicidas.

O software foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, sob a coordenação do professor Nilton Luiz de Souza, pela engenheira agrônoma Natália A. R. Peres, autora de tese de doutorado sobre o novo sistema.

O projeto teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e contou com as parcerias da Universidade da Flórida, (EUA), e da Citrovita, empresa do grupo Votorantim que tem 3 milhões de pés de laranja na região paulista de Itapetininga.

Sistema na Internet é gratuito

Os resultados mostram que, ao adotar o novo sistema, os agricultores economizam cerca de R$ 200,00 por hectare em aplicações de fungicidas. Os produtores brasileiros podem utilizar, gratuitamente, o sistema na internet (infotech.ifas.ufl.edu/disc/pfd/).

O trabalho começou em 1997, afirma o professor Souza, que há 30 anos pesquisa fungos causadores de doenças de plantas. “Foi quando representantes da empresa procuraram o nosso Departamento de Defesa Fitossanitária para solicitar a colaboração na solução dessa praga que ameaçava a produção de laranjas em Itapetininga.” A podridão floral é um problema que atinge várias regiões do Brasil, maior produtor mundial de laranjas, com mais de 1 milhão de hectares de árvores plantadas e uma colheita que somou 371,3 milhões de caixas na safra 2002/2003.

O fungo (Colletotrichum acutatum) age em todas as regiões produtoras de laranja, incluindo Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, Estado responsável por 70% da produção brasileira de citros.

Ferramenta gera recomendação para pulverizar ou não

A presença da podridão varia de ano para ano, de acordo com a coincidência ou não das chuvas durante o período de floração das plantas. O fungo precisa da umidade e dos nutrientes das flores para se reproduzir. O ciclo da doença é rápido. Os primeiros sintomas são observados entre quatro ou cinco dias após a infecção.

“As fontes de inoculação são as células reprodutoras produzidas nas pétalas doentes, disseminadas para as flores sadias por meio da chuva. No período entre floradas, o fungo sobrevive nas folhas e nos cálices (a parte da flor que vai sustentar o fruto), dificultando a sua eliminação com pulverizações de fungicidas ou outros tratamentos”, afirma Natália.

Uma das dificuldades no combate à podridão floral é determinar o momento ideal de aplicar o fungicida, porque para o controle ser eficiente é necessário pulverizar, quando as condições climáticas estão favoráveis à doença.

A nova ferramenta, além de levar em conta as mesmas variáveis de modelo desenvolvido nos EUA, considera também o estágio e a intensidade das floradas, o histórico da doença no pomar, a variedade dos citros, bem como fatores que induzem à ocorrência de flores fora de época e favorecem o aumento da presença do fungo.

Depois da seleção de todos os parâmetros, por meio de janelas de múltipla escolha, o sistema calcula o valor de risco de ocorrência da doença e gera recomendação para pulverizar ou não.

Da Revista da Fapesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)