Unesp: Pesquisa comprova resistência do vírus da varíola em vacas e ordenhadores

Estudo foi publicado no jornal do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA

sex, 23/05/2003 - 10h22 | Do Portal do Governo

Em 1980, a Organização Mundial de Saúde declarou a varíola completamente erradicada do planeta. O Vaccínia virus utilizado para produção de vacina contra a doença resistiu ao tempo e, hoje, é responsável por surtos de lesões nos tetos do gado bovino e nas mãos de seus ordenhadores.

A constatação foi feita num estudo realizado pelos médicos veterinários Luiz Claudio Nogueira Mendes e Juliana Regina Peiró, do Departamento de Clínica Cirúrgica e Reprodução Animal da Faculdade de Odontologia/Unesp, campus de Araçatuba; e Alexandre Secorun Borges, do Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), campus de Botucatu.

“Apesar de não causarem sérios danos à saúde das pessoas ou dos animais, esses vírus podem causar perdas para os criadores de gado”, explica Mendes. “Ao contrair um desses vírus, as vacas têm dificuldades para amamentar os bezerros.”

A pesquisa, que contou com a colaboração do Instituto Biológico de São Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi publicada com o título Araçatuba virus: a vaccinialike virus associated with infection in humans and cattle, no jornal americano “Emerging Infectious Diseases”, do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA, em Atlanta. “A publicação é voltada para o estudo de doenças emergentes e tem grande impacto na comunidade científica mundial”, afirma o veterinário.

Agente isolado

Iniciado em 1999, o estudo analisou os casos ocorridos na região de Araçatuba. Na época, o ordenhador que entrou em contato com as cabeças de gado afetadas pelas lesões apresentou nódulos em suas mãos. Preocupado com o diagnóstico dessa enfermidade que afetou cerca de 40 vacas de sua propriedade, um dos produtores de leite do município procurou os especialistas da Unesp.

Para verificar a verdadeira identidade do agente causador da doença no município, os pesquisadores enviaram as amostras do tecido contaminado aos laboratórios do Instituto Biológico de São Paulo, que realizou o isolamento do vírus e os exames de microscopia eletrônica. Em seguida, os resultados obtidos no Instituto foram enviados aos especialistas da UFMG. Lá, o DNA do vírus isolado foi comparado ao dos diagnosticados. “Os testes mostraram que o agente responsável pelo surto era, de fato, o Vaccinia virus”, revela Mendes.

A equipe de pesquisa constatou, ainda, que o vírus isolado em Araçatuba é muito próximo a um agente identificado no Rio de Janeiro, o Cantagalo virus. “Há a possibilidade de que o agente isolado em Araçatuba tenha sobrevivido em reservatórios naturais, como os animais silvestres”, avalia. “Se isso for confirmado, o vírus pode ter sido levado pelos animais infectados para outros Estados.”

Da Agência Imprensa Oficial

(AM)