Unesp: Memória oral permite interação entre pessoas de diferentes comunidades

Pesquisadora defendeu tese sobre o assunto no campus de Araraquara

ter, 10/08/2004 - 13h14 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unesp

Num país como o Brasil, em que os índices de analfabetismo são considerados elevados e a quantidade de culturas diferentes pode ser medida pelo tamanho do território, a memória oral pode ser uma importante fonte de estudos. Baseada nisso, a pesquisadora Rosimar Schinelo produziu a tese ‘Memória Oral: a mítica arte de tecer palavras’, defendida na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara.

Por meio do estudo de narrativas orais, Rosimar analisou o caminho que elas percorrem quando transformadas em objeto de pesquisa – ou seja, quando transformadas em textos transcritos – e demonstrou que a memória oral não pode ser apreendida pela escrita. ‘A narrativa oral é sustentada pelo movimento dos sentidos construídos sócio-culturalmente, por isso é sempre atual, é memória viva, discurso em movimento’, explica a pesquisadora. ‘No momento em que a narrativa oral é escrita, ela se torna estática’, completa.

A pesquisadora destaca que as teorias mais recentes sobre o discurso afirmam que o movimento aparentemente paralisado pelo registro escrito da narrativa oral ganha um novo impulso a partir do leitor. ‘A memória é um discurso continuamente transformado por cada sujeito’, esclarece Rosimar. Segundo ela, o afastamento do leitor do fato narrado o faz aproximar-se da história – definida pelo historiador Pierre Nora como a reconstrução daquilo que já não existe mais.

Isso mostra como a memória vai se modificando ao longo da história. A memória enquanto ritual passa para memória histórica – quando é registrada em linguagem escrita. A memória histórica, por sua vez, quando usada como instrumento de trabalho por outras pessoas, transforma-se em ‘memória pedagógica’. Rosimar explica que geralmente a tradição oral é transmitida de uma geração para a outra, mas em alguns casos a comunidade desaparece ou os rituais e a narração de um acontecimento não são permitidos: ‘Assim, a memória oral é sufocada pela história oficial e se torna silêncio’.

Ao demonstrar que trazer as experiências cotidianas de comunidades analfabetas para o universo acadêmico é uma forma de ‘congelar algo’ que está em constante metamorfose, a tese ressalta a importância da memória oral. Ela propicia uma interação maior entre sujeitos de diferentes comunidades culturais. ‘Além disso, ela permite que a voz dos não letrados se harmonizem às vozes da história oficial construída pela escrita’, conclui a pesquisadora.

Da Assessoria de Imprensa da Unesp
V.C.