Unesp: Livro traça um panorama de manifestação religiosas em todo País

Obra reflete o significado de ser brasileiro

seg, 15/03/2004 - 10h17 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unesp

Se, como dizia Shakespeare, existem entre o céu e a terra coisas que a nossa vã filosofia não consegue explicar, uma delas é a fé. Força poderosa que move o homem desde as suas origens, está presente nas mais diversas manifestações culturais, como o folclore e as festas populares.

Esse rico universo é reunido no livro Festas da fé, com pesquisa e texto do artista plástico Percival Tirapeli, professor do Instituto de Artes da UNESP, campus de São Paulo, e fotografias de Rosa Gauditano, que clica festas populares há três décadas. A união entre imagens coloridas, muitas vezes pungentes, que lançam um denso olhar sobre a alma brasileira, e as explicações do docente geram um resultado harmônico e cativante.

De linguagem simples sem ser simplista, o livro, uma edição bilíngüe cuidadosamente diagramada, passeia por todo o País, numa jornada contagiante em que as imagens funcionam como um fio condutor de tirar o fôlego pelo impacto visual e pelo convite permanente a repensar o Brasil.

O livro se divide em quatro grandes partes. A primeira, ao tratar de festas ibéricas e do cristianismo popular, inclui textos e imagens sobre o ciclo natalino, a Semana Santa, procissões, a Festa do Divino, o ciclo junino, romarias e santuários, e imagens sobre fé no sertão. São mais de cem páginas, que trazem à tona festas da maior importância, como as Folias de Reis, as procissões fluviais e marítimas, o bumba-meu-boi e o Padre Cícero, um ícone do sertão nordestino e da cultura religiosa nacional.

A segunda parte é dedicada a festas afro-brasileiras, como congos, congadas, maracatus, Iemanjá, Lavagem do Bonfim e Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte. Nesse universo, destacam-se as fotografias sobre São Benedito realizadas em Tietê, SP. Uma delas é a capa do livro, que traz fatos pouco conhecidos, como a informação de que o santo negro era cozinheiro e, por isso, aos pedidos que lhe são feitos são anexados saquinhos de café, açúcar, arroz e feijão.

As festas italianas de Nossa Senhora Achiropita e Nossa Senhora de Casaluce são igualmente motivos de um capítulo. É possível aqui perceber a importância da imigração italiana para o desenvolvimento da cultura paulistana, principalmente em termos das devoções religiosas, em bairros como Bexiga e Brás. As cores quentes, como vermelho e amarelo, predominam nas fotos de Rosa Gauditano.

A última parte enfoca as festas indígenas, incluindo rituais de passagem caiapós, cruzes e cruzeiros e a festa de Santa Cruz. A impressão que se tem aqui é a de um mergulho em outro mundo, onde a mágica e o misticismo se misturam, gerando imagens em que o elemento indígena mostra seu potencial de sobrevivência perante o predomínio da cultura branca.

Dessa maneira, o livro cumpre, no mínimo, dois papéis fundamentais. Por um lado, os textos constituem um competente referencial sobre as principais festas religiosas brasileiras. Tirapeli consegue explicar o significado de cada uma delas sem perder o rigor acadêmico ou cair na banalização.

Por outro lado, as fotografias de Rosa Gauditano constituem um painel inesquecível do País. Assim, texto e imagens se articulam numa aula, possibilitando a reflexão sobre o que significa ser brasileiro e onde estão os caminhos de constituição de uma identidade nacional numa nação ricamente multifacetada e, por isso, cada vez mais fascinante à medida que a conhecemos melhor.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unesp.br
V.C.